quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ilusion, quem sabe

Enquanto escrevo, o vento vem lá de fora aplacando esse calor, tornando minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. O que eu penso hoje é da cor da paisagem do outro lado do vidro – do céu de uma tarde que finda, os pássaros no fio de alta-tensão, da casa do outro lado da rua, da árvore que eu plantei e do pisca-pisca de natal em seus galhos. Eu espero que a noite caia e então terei pensamentos lua, pensamentos estrela. Pensamentos sonhos que fujam de mim, das minhas redomas, e alcancem em cheio aquela madrugada. Quero pensamentos do tamanho dos nossos beijos. Porque há muito nada é tão imenso ou confortável. Eu quero pensamentos que me enlacem, me tomem, me provem e me digam, ao cabo de um toque, o que eu já não quero ouvir. Eu quero sentir. Sem flores, sem dores, sem amar coisissíma alguma. Eu quero, embaixo da minha janela, um sentimento nosso que aplaque esse calor (ou não) e que torne minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. Quero sentir algo assim da sua cor: vermelho.


(beijos que apagaram os desejos que eu tinha)

domingo, 20 de dezembro de 2009

~

passou.
foi um vento que não me arrastou
não refrescou. não moveu.
passou.
e eu não fiquei.


/essesilêncioépaz

minha estupidez

Me encontrei ipsis literis* em um texto alheio a mim - como há muito não me sinto explicitada no que nessas (minhas) terras planto e colho. Faz tempo que não me entrego, já não me escancaro irresponsável e descaradamente, não. Eu seleciono, edito e enquadro as minhas imagens e é tudo sobre mim, exceto a verdade. É quando percebo que isso de amar é muito espelho. É muito de eu cobrando dele as minhas contas, o que me falta do que satisfaz, o que eu precisaria dar e não recebo. Irresponsável. Descarada. Covarde. Tem faltado é coragem pra abrir de novo peito e alma e propôr outra vez o amor e a entrega, pra acreditar outra vez - além e depois de tudo - que é possível, nisto de espelho, ser e ter paz e conforto; coragem pra arriscar a paz que eu cultivei, nisso de amanhecer só, de lamber minhas feridas e lidar apenas com os meus braços, o meu silêncio e a minha estrada (e - por que não ? - com o meu egoísmo). Ou que haja coragem então, já que não rompo com essa droga de uma vez, pra assumir que quero entre nós dois mais sentimento, que me apavora a maldição da longa estrada ( do tempo que transforma todo amor em quase nada) e que ... meu bem, meu bem {...}. Ou, talvez, não seja covardia. Talvez só me falte fé.

* do latim, 'pelas mesmas letras'. fazia sentido quando escrevi esse texto da primeira vez. porém eu estaria, como sempre, selecionando facetas da minha verdade se não assumisse que há partes do texto alheio que não me cabem. ¹ eu digo 'meu velho amor', muita vez sem dizer que é velho, mas sempre afirmando que é meu. ² que não há agora um novo amor, fato. ³ que eu preciso cantar lá do fundo do meu coração, mas não quero.

Nunca vi alguém tão incapaz
De compreender

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

de botas batidas.

Tudo são só desejos de que me invada a vida, graça e luz. Tudo é apenas um vestido e os fios de todos os planos que o tecem, é um perfume, um sabor e o mosaico que se abre em memória. É um olho anzol fisgando pra si o que eu teimo em tornar meu: minhas ânsias, meus medos, meu tesão. São pés âncoras fincadas em minha terra (outrora) firme. é teu corpo inteiro navio, barco à vela; é você canoa sempre que eu for mar aberto. Eu me desdobrando em ondas imensas, balançando teu rumo, afogando teu prumo e você, sereno. Lindo. Etéreo. Eu me revolto em ânsia literárias porque preciso sentir o que eu já não escrevo e transpasso entre vestidos e palavras todas as vontades que agora me invadem. Do portão pra lá, eu sou dos rios, da correnteza e monto cavalos arredios. Dentro em mim, a conversa é outra.

ei, vamos além?

domingo, 13 de dezembro de 2009

moon river II

eu tenho medo de olhar você. medusa. seduz meus medos, abre minhas pétalas de súbito sempre que fecha seus olhos bem devagar. ávido e precipitado. me irrita esse teu jeito enciclopédia, essa tua voz bibliografia. esse teu ser todo torto. todo errado. é insuportável responder por você. se, com você, já não respondo por mim. tudo é espumante. estourar champagne. fogos. ano novo. tudo é imensamente novo e terno. justo pra mim. meu destino certo, todo questionável. até teu silêncio me impõe questões. esse teu olhar inquisição, teu peito carrasco, teu corpo fogueira. eu inteira igreja. e os dogmas caindo ao chão. as roupas. a chuva. os corpos. e o sol caindo no mar. eu ainda tenho medo de te olhar. sereia. naufrágio. meu corpo e um vestido branco. a água percorrendo as estradas que você abriu. você é décima terceira tarefa de hércules. ícaro. o sol derretendo minhas asas. minotauro. labirinto. bolas de linha. você é todo mítico. todo sóbrio. todo credo. todo gato sem nome. esguio. silencioso. notigavo. e eu ainda tenho medo de te olhar. mapa sem x. eu, pelo que vejo, sr. quem-quer-que-seja, tenho medo é de ser sua.

moon river.

"Sabe qual é o seu problema, Srta. Quem-Quer-Que-Seja? Você é medrosa {...} Pessoas se apaixonam e pertencem umas às outras. É a única chance que têm de serem felizes. Você acha que é livre e selvagem, e morre de medo de ser enjaulada. Bom, querida, você está na jaula que você mesma construiu {...} Estará sempre nela. Não importa para onde corra, estará sempre trombando consigo mesma"

Certas coisas que vêm antes, são ditas tão depois. E nos encontram quando já não buscamos, sendo anúncio, dèjavu, prâmbulos ou mesmo lembranças. Assim me disse ele, talvez não com estas palavras. Talvez não nessa cadência. Por certo, nessa intenção. Tenho a sensação de que eu sempre conheci tal ensinamento, e nunca o soube. Agora é como se tudo se descortinasse. Como se eu devesse agradecer à vida os caminhos, os tropeços; o peito em disparada, o receio , a paz, a pressa; o econtrá-lo. Tudo é tão seguro e, ao teu lado, o espelho não me mostra nada além do meu sorriso no futuro. Só agora. Para sempre. Estranho como tudo isso é sólido e efêmero. Não nos pertecemos n[os dois. Apenas nos encontramos deste - ou do outro lado 0 do rio, e desde então nos oferecemos verdadeira companhia. E por isso sou tão sua quanto você é meu. E isto é tanto. Somos melhor assim, em par. Sem solidão. Com calor. Talvez eu enfim saiba o que eu sempre conheci. O amor é livre. É lindo. E eu mereço. Para sempre. Só agora.

Ele está certo. Não está, gato?


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

outro samba.

-

hoje eu quero apenas
UMA PAUSA DE MIL COMPASSOS
para ver as meninas
e nada mais nos braços.

se for preciso, eu repito:
porque hoje eu vou fazer
ao meu jeito eu vou fazer
UM SAMBA PARA O INFINITO'

{...}


(8)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

back to basics

Passado o vazio, tudo agora sobra.A vida toda em pleonasmo. Cada frase reafirmando a anterior, e eu sinto que posso limar todas de todos os livros, dos textos, dos outdoors. Tudo é exagero. Tudo sufoca. Canções são tantas, tocam tanto e tão juntas que seus versos não sei distinguir. Tudo é inútil. Tudo é inócuo. Fazendas cacaueiras. Saara. Castelos de deputados. Tudo se extende sem ser grande. Tudo carece de sínteses. Bíblias comentadas, verdades curvas desdobrando-se em metáforas vãs, masturbação eterna > Romances de uma linha, flores de quatro pétalas, direita e esquerda apenas. Tudo transborda. Nada preenche. Noé e sua arca não nos livram desse diluvio de cores. Essa maré cheia de formas. Tsunami. Chico. Sotaque francês. Camões. Almodóvar. Frida Khalo. Kamasutra. O que foi feito do simples? Zé da Luz. Indoeuropeu. Haikai. Cinema mudo, P&B. Gozar.

/Ctrl + A, del.






terça-feira, 8 de dezembro de 2009

sede.

te amarro. te amargo. te amalgo.
te como. te deito.
te deixo.
eu te espero.
sento, e te espero.
me sento em ti.
e te como. te deito.
te deixo ficar.
te beijo.
te abraço.
te limpo. te lavo.
te largo.
te rasgo.
te cego.
te rego. te podo. te planto.
te vejo crescer.
te olho. te ouço. te sinto.
eu te sinto.
eu te adoro.
e odeio.


eu te água.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bon Apetit

Livro aberto na página certa, a memória aguçando os sabores, a panela a espera dos ingredientes. Mãos hábeis em cortar temperos, os tomates em cubos, as cebolas delicadamente fatiadas e o alho prensado exalando olor como a afastar os maus agouros de uma velha canção. Enquanto refogava, o vapor tomava a cozinha naturalmente quente e eu sentia o fogo brando limando qualquer resquício de outras receitas, qualquer dissabor. Nunca tive os sentidos tão intimamente ligados – era o cheiro do molho caseiro a me invadir narina adentro, as papilas já podiam supor o gosto novo, surpreendentemente, delicioso, o tato desvendava outras texturas e as pupilas dilatavam pra adaptar-se a semiluz ou como resposta ao interesse pulsante. Em água fervente, o macarrão jazia cozido, macio, solto, salgado no ponto, eu – ciente dos meus dotes, mas ansiosa por elogios – servi massa e molho numa travessa velha, deixei o queijo ao gosto do freguês e qual não foi minha surpresa ao ouvir num sotaque genuíno a canção que embala minha fome.

- Casa comigo, mulher?

[~]

domingo, 6 de dezembro de 2009

200º

De algumas coisas a gente se liberta. De outras tantas, livra-se. Existem pesos e existe pesares. Para cada palavra – e todo sentimento – abre-se uma porta e, a partir dessa, milhares de possibilidades. Porque o vernáculo é amplo e restrito. Porque o saber é amplo. O sentir, irrestrito. E, se penso este texto com o peito, volto a ser vernáculo. Outra vez amplo, irrestrito, se estendendo pela superfície e mergulhando ao fundo de cada palavra – e todo o sentimento. São duzentas as viagens, inumeráveis os destinos e o sem-fim de caminhos que trilhei partindo desse ponto inerte e que abandonei quando um outro templo cintilou mais convidativo lá ao longe. Tudo é templo. Aquele corpo, uma pedra, aquele monte de areia branca onde eu deslizei como se à beira de um vulcão prestes a explodir. Explosões são templos e eu as venero. Fico de joelho diante o que é explosivo ou construtor. Só as palavras solidificadas não me arrancam adoração. Palavras que não edificam ou demolem são palavras que não abalam. Todas elas abalam se em teu tom. Certas palavras brincam d esconder seu poder, seus reais significados ou – como gêmeo em novelas – ora dizem algo pra outr’ora – transvestidos de si mesmos – contradizer-se. Eu tenho lá minhas cismas com o português, especialmente o bem falado. Gosto como em francês primeiro se diz que ama para depois esclarecer o não mais*, enquanto pras bandas de cá somos diretos e nada sutis ao dar os primeiros passos com uma negação: não te amo mais. Negações constroem o que o amor pôs no chão. Ou o oposto. Já não sei. Uma ducentésima vez, venho aqui pra explicar algo e saio assim, confusa e leve. Livre de tantos verbetes, acabo por me livrar de mim.


*
je t’aime – mon non pluis.

domingo, 29 de novembro de 2009

tropicália.

Estão de volta o sol e aquelas canções. A pele retoma o seu tom, ouro. E a boca torna a experimentar ora o sal, ora o doce. A vida inteira, como se encenando dois atos em interminável justaposição, vagueia entre a leve brisa e rajadas de um vento sul. Tudo agora é quente, ignoramos a existência de corações que formam um belo par com uma boa dose de uísque. Digo mais: tudo agora é coração. Palpites, disritmias, acelerações, sopros, tudo ainda pulsa, e o corpo – involuntariamente – se entrega à sorte; às vontades, aos sabores, aos prazeres, às delícias. Todas as coisas ganham cores, vibram, latejam, sorriem e as palavras se encaixam num sabe-se lá o que das danças caribenhas. Porque estão de volta o sol e aquelas canções.


e que tudo mais vá pro inferno.


[~]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

 

minha criança,
por que chora se as lágrimas vão mesmo secar?


grite
. grite. grite.
/mas grite baixo
____


{...} é tudo culpa da prisão, do claustro, do dia errado, da música que nós paramos de cantar. eu tava calma, eu tava quieta, tava guardada no meu canto, trocando teorias com um anjo. eu tenho fome, eu tenho pressa, eu tenho alcool, mas o que me interessa são as memórias que eu quero esquecer.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Veraneio - um sonho

Sonhei contigo. Mesmo inconsciente, eu sei seguir nosso roteiro: minha chegada, sua percepção, a farsa do não querer, a dúbia certeza de que não posso, nossa roda-gigante, pega-pega, pique-esconde. Apenas o cenário era inédito... um estofado azul marinho, grosseiro e desconfortável, numa sala pequena e comprida, amarela, cheia de olhos em nós. Sua mão segurando a minha, um carinho casto em meu braço esquerdo, meu corpo inteiro ali e o pensamento voando longe, e você sussurrava três elogios, um par de convites e um só pedido: me queira. Acordei ainda com o eco do que você pede e eu, tavez, deseje. Me acostumei tanto a levar nós dois de um jeito bem nosso, bem do jeito que eu quiser, que me assusta a possibilidade de te obedecer. Eu bem que podia te querer e matar um dragão por dia só pra estarmos juntos, seus braços emoldurando meu corpo como gesso tomando a forma do molde, me cercando, gradeando, privando o oxigênio de tocar em mim. Quem sabe eu feche os olhos e te sonhe outra vez, talvez eu te ligue ou você me procure; mas neste ato eu saio de cena. Eu quero te ter, eu não quero ser sua e, se é pra te deixar assim, pra que eu vim, né?


eu não tava dormindo
justo ao contrário {...}



~

in-Sone.

A cabeça dói e a preguiça cola o corpo na cama. Me nego, adio, procrastino, reprogramo o despertador e então desperto. De perto, eu ainda sinto o cheiro dos meus lençóis e, mesmo ao longe, já despontam as olheiras, o tom pálido, um ar de quem cansou e ainda não sabe do quê. Esqueço a pia aberta, a água no fogo secou de tanto ferver e eu ainda encaro meu outro eu, ainda mais apático. O banho é longo, religioso e difícil – é talvez neste ponto, na lucidez que flui da água, que rompo a barreira entre o que sonho e o que tem fibra suficiente pra resistir à liberdade (Na frase anterior, eu quis ter dito ‘realidade’, palavra inconveniente... É que ainda agora eu sinto o sono de hoje cedo, e é ele quem confunde minhas idéias). Protegida em minhas toalhas brancas, todas brancas e manchadas de rímel ou pó, abro os armários, analiso peça à peça e faço as mesmas escolhas da semana passada – meu armário é maquete de todo o resto. Tropeço até a sala, erros as chaves todas tão iguais, tombo nos degraus, derrapo nos plurais e entro no primeiro ônibus que pára quando bato a mão – todos nós sabemos o que dizem sobre qualquer caminho servir aos que não sabem aonde vão. São, então, mais destinos, degraus e plurais. Tudo é tão plural agora, mas assume uma consciência ímpar, prima-irmã daquela outra da infância – incrível como são infantis esses ditos maduros! Incrível como eu amadureci anos esses meses. Teimo na repetição de clichês, roupas, palavras, atos e autos. Porque a cabeça dói e a preguiça cola meu corpo no passado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

regra três

Escombros de vida, a poeira à cima do chão, cacos e mais cacos. Incrível como nos vi ali no entulho de sua casa demolida. Fomos lar de toda sorte. Nossas paredes coloridas, a cama de casal, os bancos da varanda, os corredores, a saleta da TV e o meu sorriso. No nosso quintal brotava uma orquídea rara e logo crianças e cachorros correriam pela grama. Uma verdade falsa como casas pré-fabricadas em papelão. A culpa vã, o vento leste, a chuva de verão, um rabo de saia e lá se vai parede, cama, quarto, sala, filhos, sorriso. Lá se vai a minha aposta! Uma oca, um iglu, um colchão de água, uma cabaninha de acampar, uma casa de madeira sobre as árvores - tudo é mais sólido que nosso lar de concreto. Eu quis rir do teu lar desfeito como gargalho de não mais lembrar você.

tem sempre o dia em que a casa cai
pois vai curtir teu deserto, vai.




Veraneio - prefácio


Certos versos precedem a percepção de qualquer presença e suprimem, em rimas, lacunas de outras estações. Eu era memória de um dezembro ainda não vivido, era frio de um inverno mornamente congelante, rodeada de um fogo que não esquentava, envolta em lençóis rasgados, eu sentia calor no Polo Norte, tudo em mim desafiava as leis metereológicas quando você chegou. Era maio e chovia. Minto, talvez fosse fevereiro, a lua talvez encadeasse um céu salpicado de estrelas, o sol tavez tivesse estado muito quente durante o dia, eu não sei. Todos os meus sensores de temperatura estavam, como em ligação direta, plugados a uma fonte fria. Eu fiz que não te via. Há um código de ética, por assim dizer, em vidas que andam juntas: perguntas são raras, ligações também, perdões são necessários, fidelidade é esperada. Eu não te esperava chegar. Diria não a mil homens, mil línguas, zilhões de convites. Mas já era maio e {eu} chovia quando você pôde revelar-se. Era água fresca e eu já tinha corrido léguas, era acalanto com essa voz macia e suas rimas bobas. Eu desfilava uma aliança invisivel e meu corpo sem portas precisava de um homem-muro. Você foi interrogação pros meus dogmas, minha revolução eucaristica, o vislumbre dos defeitos do meu amor perfeito, a compravação da nulidez do que é eterno mas não funciona no dia-a-dia. Eu te esperava chegar por todo o inverno pra trazer calor e fresca. Tua língua treinada me convidava à vida, ninguém além de mim poderia recusar, ou entender.

ao Meio: desculpa. Mais uma vez eu te digo que você foi consequencia e não causa, que você faz parte do mundo e não do amor. Mas você me fez feliz e leve, e por isso eu só agradeço
à fonte: te perdôo por te trair.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Closer.

Did you love me?

I'll always love you. I hate hurting you.

Then why are you?

'Cause I'm selfish. I think I'll be hapiier {...}

You won't.
You'll miss me.
No one will ever love you as much as I do.
Why ins't love enough?

{...}

/é bem por aí.

domingo, 8 de novembro de 2009

Veraneio III

Há neste encontro um roteiro pronto, absurdamente distinto do habitual. Tua chegada, meu eu troféu, meio seu sem ser e a estampa esfinge como em nanquim no teu rosto. Bonito, ainda me surpreende tua desenvoltura, teu efeito palco, teu sorrir sob as luzes, teu olhar ensaiado, teu alvo novo. Rídiculo, me assusta a forma tal que meu ciúme assume, o corpo que reinvento pra te provocar, o cabelo outra vez solto, as pernas outra vez bambas, nuas, loucas e suas - uma outra vez como nunca antes. Minha figura cada vez mais próxima, mais viva, mas límpida, eu não me quis esconder. Permiti aos meus pés a dança em par, os quase-beijos, as meia dúzia de sorrisos e a minha língua - díscipula da tua - te convidava à vida, impossível aceitar. Era eu ou o presente de São Jorge. Era eu, meus nãos, minha meta-vida, ou a vida que se abria inteira. Era ela ou era eu, que é quase nada. Serão ainda muitas canções, serão metades, será você ao meio, será até sempre ou até quando se partir uma corda - outra vez, como nunca antes.

pra me deixar assim,
por que é que você veio?

~

terça-feira, 27 de outubro de 2009

salva.a.dor - litros.

Hoje as nuvens prometiam a volta do sol, mas houve apenas dó toda a manhã. E em notas chorosas, um rio desaguou em meu colo. A chuva no telhado e o som das lágrimas no assoalho me remetiam a um bolero qualquer, eram gotas minhas na enxurrada alheia. Emendei nossas canções como poças espaçadas que viram uma só quando a chuva engrossa, logo erámos dois corpos no vão da escada e um diluvio de dúvidas, uma orquestra de sentimentos. Pra onde a chuva leva os acordes de uma canção quando a canção chega ao fim? E o amor? Pra onde vai o meu amor quando o amor acaba?

{...} vê se tem no almanaque, essa menina,
como é que termina um grande amor
se adianta tomar aspirina
ou se bate na quina aquela dor
se é chover o ano inteiro chuva fina
ou se é como cair o elevador
{...}

Com a alma enxarcada e a garganta árida, fui secando uma a uma todas as suas ruas. Calada nos becos, fingindo rir nas encruzilhadas, sendo cais em todos os endereços. Mas, após ser colo, precisei tê-lo - porque de mim também fogem certas explicações.

{...}
me responde, por favor,
pra que tudo começou quando tudo acaba?

{...}

outro samba.



-

se era assim que você me queria
podando todo o meu tesão
exubero e te esqueço num dia:
VOCÊ NÃO ME BALANÇA MAIS, NÃO.


{...}



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

salva.a.dor - estio.

Estou em pleno estio, embora chova muito pras bandas de cá. Em meu entorno tudo é úmido, mas já não há preceptação - me resolvi por atrasar o verão! Fico deitada na cama investigando as nuvens de um céu limpo e anil. Questiono a chuva que não cai, as ondas roçando solenes às pedras, proponho a inquisição das águas. Só mesmo o fluxo de um rio que corre poderia macular minha areia seca ou, vendo por um ângulo menos árido, só na subida da maré eu poderia mergulhar fundo em mim. Não. Por hora apenas fito o oceano bem além, estou indiferente e distante da brisa marinha, das águas frescas e da maresia que corroi.



e eu digo, cá entre nós,
deixa o verão pra mais tarde'


~

sábado, 24 de outubro de 2009

Salva.a.dor em gotas

Programei para o sábado um texto de sol. Bem iluminado, nascente, com janelas amplas, cortinas esvoaçantes e vista para o mar. Não deu. Hoje o céu se fechou em copas exibindo apenas um modelito frio seco em tons de cinza, as ruas alagaram e eu nada tenho a ver com isso. Se hoje a Bahia resolveu se fantasiar de Londres, meu bem, devo dizer que nunca fui tão marítima, tão praieira. Bem lá no fundo, continuo em veraneio e saio por aí levitando a cima das poças.


e eu digo, cá entre nós,
deixa o verão pra mais tarde.

~

terça-feira, 13 de outubro de 2009

não era amor,

;
era melhor.
Da série 'Mercedes me entenderia'

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Veraneio II

Todo espetáculo permite improvisos, todo som é no íntimo um pouco jazz, toda roda abre espaço pr'um samba que reinvente os acordes. Por mais que se pense, ensaie, repita, não entra em nós (hipodermicamente) o conceito do pronto, do único, do impassível a transformações. Volto ao salão dessa vez de pernas nuas, desritmadas, livres ao sabor do som que se forma em vários pulsos, dedos, cordas e cordões. Cai sobre em mim, outra vez, aquele olhar de quem já esperava a vitória na aposta, a minha chegada, o meu pedido a ser decifrado e um não quanto ao 'devorar'. Ele volta ao seu canto e eu às minhas pessoas, minha graça, meus rodeios, meu prender e soltar de cabelos, mas cerveja não há mais. Como também já não há compromisso, nem vontade de mentir sobre horários, mãe ou chaves perdidas. Engulo meus receios enquanto ele se aproxima numa ânsia tranquila, como se me percebesse em mim qualquer distração ou a falta dos aneis, dos riscos na testa, do nome estampado na alma. Não corro dos seus braços, não fujo da sua boca e sua língua, treinada, me convida à vida. Impossível recusar.

Veraneio.

Todos os encontros como um roteiro a se repetir: a minha chegada percebia sem grandes embaraços e um jeito dele me olhar como quem ganha uma aposta, como quem avista um troféu, como se soubesse que chegaríamos eu e meu sorriso esfinge a dizer baixinho e bem devagar 'bom te ver'. Coreografadas, minhas pernas dentro do jeans desobedecendo a física, ora uma no lugar da outra, ora outra, ora uma, ora as duas nas pontas dos pés; as minhas mãos por entre o cabelo a deslizar, libertando, prendendo, pulsando no compasso que ditava a voz dele, os seus dedos tensionando as cordas. Cinema mudo, era entendimento mútuo. Eu rodopiando o salão em acenos, abraços e cortesias - a mulher ideal, como ele diria, 'bonita e bacana de cerveja na mão' - e ele lá do seu canto, observando meus passos, era estátua pro sopro de vida de qualquer mulher real. Lia-se em mim contentamento escrito em tinta fresca, que ainda borra se você tocar, enquanto ele dizia em alto e bons olhos que era eu. Ouvia-se das minhas palmas um orgulho frenético como se eu também dissesse ser ele ali, ser dele ali. E era então minha cabeça afoita visitando desculpas velhas... minha mãe, minhas chaves, o horário, meu compromisso... e eu escapolia dos seus braços como se de molho em sabão. Ele insistia. Língua treinada, rebatia meus argumentos como um convite à vida. Eu negava. E era a minha partida pecebida com leve pesar e um jeito dele de olhar pra longe como quem chega em segundo, como quem perde por décimos, como se soubesse que iríamos eu e meu sorriso esfinge a dizer alto e mui clarito
'nao se atreva a me olhar, rapaz'.

domingo, 4 de outubro de 2009

é.

.

(pra ser perfeito)

BASTA SER.
mas não BASTA SER agora.

~

sábado, 3 de outubro de 2009

Farsa Pré-Datada.


Tenho vivido de suposições plenas, certezas hipotéticas. Esse texto é, por exemplo, mais um compendio de pequenos atos teatrais que eu concluo dentro de um ônibus, de volta pra casa. E é então que eu descubro que tudo sempre esteve a um passo largo, a meros metros de mim. Tudo logo toma outra forma, pinta-se o mundo de outras cores - um tom indefinido, que chega sempre muito perto do azul mas é ainda meio cinza pra colorir o céu. Nada tem sido mais amargo que a quasificação das coisas. Se a mim fosse permitido o retrocesso, se houvesse um modo de recolher o já vivido e guardar de volta na ampulheta o tempo que roguei ao vento, se eu pudesse voltar à largada, aí sim, eu estaria a milimetros de cruzar a linha de chegada, de ser inteira fogos de artificio, eu estaria no podium outra vez. Porém, e isto é o que me assusta, leio as últimas palavras redigidas e não me encontro. Assusta-me isto que me possui enquanto escrevo, me atormenta o leque de possibilidades que dou aos que ousam me interpretar. O medo de não ser o que sou me invade pelos poros e só não toma conta de mim porque já há quem o faça diariamente, em grande parte do dia. Algo além de mim me segue e escreve aqui, um eu-lírico continuo que é maior que o autor. Eu receio que um dia isto passe a ser quem sou e então complique mais ainda o que não tem sido simples ou natural. Penso que tenho escrito {e bebido e falado e beijado e fodido e respirado} como um personagem, ou então sou eu que é assim e farsa é todo o resto {?}

{outro} Texto Submerso

Texto Submerso, o primogênito.

Há qualquer magia em voz e violão que me ergue além do chão que piso, fato. E, quando estou emersa no azul do céu, as palavras passam como uma brisa mansa - brincam com meus cabelos, fazem dançar minhas saias e eu não me preocupo em aprisioná-las. Nunca pretendi decodificar versos, metáforas, madrugadas líricas. Eu não sei realizar o que é fantástico. Porém ontem, quando eu me resguardava de certas canções, uma voltou a me bater. Dilacerando todas as minhas vãs certezas, tudo que eu arquitetei sobre estar além deste ou daquele amor. Ontem, ao som de guitarras destorcidas, meus pés voltaram ao chão e as palavras me enxarcaram pra dizer que sou eu um aquário. E, como um peixinho beta, você há de viver em mim sempre sozinho. Não há espaços para outros seres ou espelhos e, tendo eu todas as tuas cores, o que me faltará?


_____________________________
Te amo.
Te amargo. Te amalgo. Te amarro.
Te alimento das coisas de mim.

.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os Cegos do Castelo.

Bocas são atrativos banais, orelhas me causam repulsa e os narizes, a mim, não fedem ou cheiram. Porém - me desculpem os muito vesgos - olhos são essenciais. Não me interessam em absoluto os rapazes que carregam duas lápides na face, os que já perderam o viço, que se escondem em lentes escuras e os usuários de colírios diet. Me encantam os claros e transparentes - sem preconceitos ou preferências quanto à coloração, basta que através deles eu enxergue uma alma e reflita a minha própria como num espelho bacará. Me entorpecem os que, como labirintos ou caleidoscopios, me abrem um leque de possibilidades e pontos de vistas, os que parecem enxergar tudo menos a mim e, concomitantemente, varrem meus jardins em dois tempos, devastando o que antes era impensável a olho nu. Corri os olhos pelas palavras já escritas e me peguei em contradição: sobre cores, me são de tremenda importância as que eu enxergo frente ao que já não vejo, as luzes que se acendem no infinito quando seu cheiro me invade e os planos inéditos todos em tons pasteis que eu faço sobre trilhar minha vida numa estrada vista a um único olhar. O menino dos meus sonhos é míope e pra me enxergar fecha os olhos.

~ o essencial é invisível aos olhos, juro.

{...} à margem da loucura.

certas coisas são como a última faixa a entrar num disco, aquela fotografia que não ia fazer parte do álbum, o vestido que você não cogitou usar naquela festa. há dias em que o despertador se desespera ao seu lado e você apenas adia o despertar; não há motivo algum pra estar de pé, não há banho que lave sua alma nua, não há razão pra ir a lugar algum. perpassam meus dias uma sensação estranha de que o botão de replay emperrou. sou uma aquarela em tela única. como os pontos de ligar onde, não importando a ordem, chegamos ao mesmo desenho. há nos meus dias uma força estranha que me move, que me ergue no terceiro badalar, lava minha alma a seco, me põe a caminhar por entre os carros e me traz de volta à cama, ao sono, aos sonhos. minha força tem fome de singles improváveis, de elogios indolentes e suspiros solenes.

eu vou na bubuia, eu vou.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

__


desesperadamente
eu grito em português:



Todos os dias eu marcho rumo a lugar algum. Todos os dias, eu pretendo não ir. Tomo o elevador como se descesse lances de escadas arrastando os pés degraus abaixo, repassando as canções de exílio, atrasando o passo, adiando a hora em que nos encontramos eu e meus portais. Em pé na esquina da avenida, espero que o ônibus venha a vapor, que não se demore, que me leve dali. Uma vez em suas poltronas eu sou parte do estofado, do chão, dos pneus e sigo para muito longe do aqui havia antes - quando eu era eu e era só. Vou assim com a pressa louca de deixar o cais e ainda com a calma imensa dos que têm todo o tempo, todo o mundo, todos os planos. Desço e escolho os caminhos mais longos, os passos mais curtos, as caronas mais lentas. E tudo são outra vez degraus, outra vez pressa e para sempre muita preguiça. Não há X no mapa e - como armadilhas em tumbas de faraós - as paredes se contraem em volta de mim e parecem sugar o ar que meus pulmões tanto anseiam. Todos os dias eu marcho rumo ao único lugar onde caibo. Todos os dias eu pretendo não voltar.

{...} Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda.


sábado, 19 de setembro de 2009

Trabalho Silencioso

À noite, todos os sons são baixos. Dizem que é justo o oposto: que o escuro turva o colorido, parda os gatos e, aguçando os medos, faz dos barulhinhos do silêncio um trio elétrico de mal-agouros. Não pra mim. Desligo as luzes e pauso o mundo do outro lado da janela apenas para me ouvir, e o barulho que faço abafa a sinfonia lá de fora e os acordes dissonantes do vento, fico surda às vidas alheias em alto e bom som. No teto, minha tela de cinema (♪) reproduz em sound round as falas do meu peito e só eu as dou ouvidos, porém a trilha sonora de uma outra película - já tão gasta - parece fugir pelos alto-falantes e se espalha por entre os carros, por entre as pernas, por entre as mãos dadas, soltas e desobedientes. Em braile, eu leio tateando minha própria pele, meus próprio contos, meus vários sons. Só creio na verdade que encontro escrita, mimeografada em poesia na síntese lírica do vivi em cores e nas letras que permanecem reluzentes em neon ainda que eu tranque todos os sons e apague todas as portas.


no silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez.

vai pegar feito bocejo

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

dulcíssima.

 



bruta flor do querer

ah, bruta flor
bruta flor "



 

 

Tudo são só desejos de que me invada a vida, graça e luz. Tudo é apenas um vestido e os fios de todos os planos que o tecem, é um perfume, um sabor e o mosaico que se abre em memória. É um olho anzol fisgando pra si o que eu teimo em tornar meu: minhas ânsias, meus medos, meu tesão. São pés âncoras fincadas em minha terra (outrora) firme. é teu corpo inteiro navio, barco à vela; é você canoa sempre que eu for mar aberto. Eu me desdobrando em ondas imensas, balançando teu rumo, afogando teu prumo e você, sereno. Lindo. Etéreo. Eu me revolto em ânsia literárias porque preciso sentir o que eu já não escrevo e transpasso entre vestidos e palavras todas as vontades que agora me invadem. Do portão pra lá, eu sou dos rios, da correnteza e monto cavalos arredios. Dentro em mim, a conversa é outra.
~

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

L'Amoureuse

Il semble que quelqu'un ait convoqué l'espoir
Les rues sont des jardins, je danse sur les trottoirs
Il semble que mes bras soient devenus des ailes

~

A música em meus ouvidos nunca foi tão doce e a cada dia torna-se mais colorido o verde que me cerca. Se estive envolta em mar, tonta de navegar ou hipnotizada num labirinto caramelo, devo confessar que - tal às najas ao som da flauta - eu tenho dançado e me erguido por um único sabor. E é mel. É encanto, é prelúdio de paixão e é um pé-ante-pé nos degraus pra que eu não tombe do alto em que me ergue este sonho. Há porém a doce ilusão de que, caso eu caia, (re)pousarei em brancos braços que me alçarão de volta aos céus com suas asas e seu beijo, mel.


Qu'à chaque instant que vole je puisse toucher le ciel
Qu'à chaque instant qui passe je puisse manger le ciel
Car je suis l'amoureuse.
~ ~ ~

Ao Mantra Invisível II

É isto um brinde à boca sem gostos, ao peito sem máculas, aos sábados sem dissabores e ao próprio dissabor sem mim. É esse teste-texto apenas um viva à vida que se expõe límpida e clara: uma folha em branco. Sou eu me transfigurando em palavras pra dizer que escolhi novas cores, novos sons, outros encantos.



Hoje eu entendi:
sonho não se dá, é botão de flor.
{...}



~

sábado, 29 de agosto de 2009









~

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

gênesis outra vez.

No principio era o verbo {...} Era um tal de 'ser' a ser conjugado, era pretérito mais que perfeito e infinitivo, eram infinitos tempos e as pessoas se engendravam em fluidez tamanha que momentos houve em que não se pode dizer onde fui mais nós que eu. As orações coordenavam-se trôpegas e vírgulas já não cabiam mais. Vagavam sem rumo as reticências e os bueiros nas ruas engasgavam com as aspas que tombavam dessa paráfrase, desse plagio anunciado que fingíamos fazer nascer. Até o ponto em que interrogar era inócuo e o ponto final fez-se óbvio e, talvez por tanto, indolor.

~

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

s/ Olhos nos Olhos

Toda liberdade é gradeada, como há frigidez em qualquer prazer. Há também indiferença em sinceros votos de felicidade e distância na presença, ainda que se esteja 'dentro de' ou para além de dimensões materiais. Permeia meus absurdos hoje uma paz tão imensa, uma verdade tão gigante que momentos há em que contesto ora o sossego, ora a agonia. Os círculos que traço partem todos de um centro em comum e, não obstante, me vejo emersa em espirais intrincadas, em armengues de linhas curvas. Fui arrebatada por mil e vinte quatro palavras áridas e sós três - ditas por dizer, em voz de veludo - me açoitaram como chicotes brasis na carne exposta. As cicatrizes que levo como troféu, não as olho. São marcas indeléveis da dor que não sinto e seria por demais cruel que eu me pusesse a encará-las como a caçoar da minha coragem, dos meus cansaços, da minha paura. É insensato somatizar no peito o que só a alma encara, sendo que esta permanece perene enquanto o primeiro padece a pagar as contas de sentimentos frívolos. Há eternidades inteiras no que já não existe enquanto o que permanece atado ao que é vulgar não se desdobra em surpresa alguma. Isto é parte ainda do que afirmo sem alcançar entendimento algum, porque apenas a obediência se revela uma opção à loucura.

domingo, 16 de agosto de 2009

Texto Submerso

Quantas lendas tu queres, tantas posso contar.
Carinho até onde quiseres.
E, ao habitar meu lado escuro, zilhões de sóis
haverão de brilhar.

_____________________


Assim ouvi cantar num bar sobre um 'amor de cavalo marinho'. Por vezes me abandou palavra qualquer que servisse pra explicar o que em mim transbordava, então cogitava usar as palavras da tal canção, e eu nunca as soube. Em verdade, não as ouvi vez alguma - as notava tão minhas que apenas me permitia viajar por entre a melodia e sentí-la. Nada pode ser mais lindo. ''Ontem", quando eu já não amarrava, amargava, amalgava coisa alguma, ela voltou a me bater. Indolor.

ei, olha só o que eu achei:;
cavalos... mariiinhos... (8)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De jornalista e louco

Entre amizades como planos de futuro e saudosismo típico a quem não viveu o que se fez de bom e digno, me peguei numa encruzilhada: o jornalismo é cachaça ou sacerdócio? Não há caminho que me traga respostas certeiras no fim da linha, tampouco são curtas as linhas que traço - logo, tenho futuro; o que seria de nós sem uma dose louca de inquietação? E há de ser um pouco louco se pretender ser jornalista - ou bêbado ou mesmo frei. Somos o quarto poder. Acredito que, como tudo aquilo que transcende, jornalistas o são. Pronto. Cuspo na máxima do 'o que é que bom já nasce feito' ... se até Pagu nasceu Patrícia ... mas me apego sempre à vocação se explico explico minhas escolhas. E é nesse ponto do caminho que pra mim jornalistas são religiosos incorrigíveis - monoteístas fanáticos todos nós, inclusive os agnósticos. Adoradores do deus Notícia; de caneta em punho, gota por gota como contas do rosário; em entrevistas como em confissões - e, onde a religião se cala, nos é dado o direito a não omissão (saber usá-lo é o que difere jornalistas dos - apenas - cozinheiros criativos e bons de lábia). Nos afogamos em notícias, em doses duplas de verdades (sem gelo, por favor). Digo mais, são alcoolatras todos os jornalistas - desdes os pautários aos assessores de imprensa. Mas, onde a cachaça fala o que não se deve, jornalistas devem saber ser voz apenas ao que pede pra se cantar. São românticos, muito. É nossa a responsabilidade de traduzir as mensagem do mundo e alardeá-las. E se me confundo entre as pessoas é porque estou apaixonada por todas as matérias por fazer. Descubro então que não me cabem as retas, faço curvas, e me mantenho na contra-mão das respostas. Sigo e me deparo com um sinal verde: JORNALISMO É PAIXÃO.

¹ deusamenina achou lindo a dissolução da Lei de Impressa autoritária e retrograda, mas acha muito feio não ter nenhuma outra de sobreaviso.
² deusamenina comprou 12 bonequinhos de voodoo e, sempre que lembra da não-obrigatoriedade do diploma, fura todos eles (6)
³ deusamenina é caloura na Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia, e não pode pedir mais nada aos céus.



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

pois é,

eu não tenho tempo
eu não sei voar
dias passam como nuvens
em brancas nuvens, eu não vou passar

{...}

eu nã tenho medo
(eu não tenho tempo)
de me ver chorar

eu não tenho medo
eu não tenho tempo
eu não sei voar

/dito isso, ela voou.

quarta-feira, 22 de julho de 2009



o pôr-do-sol vai renovar,
brilhar de novo o seu sorriso
{...}
deixa tudo em forma, é melhor não ser
não tem mais perigo. digo, já nem sei
ela está comigo. digo, só não sei

o Sol não advinha.

~

sábado, 18 de julho de 2009

de ontem em diante

O destino cortou os laços com meu pulso firme e todas as coisas apenas saíram do meu controle. Assim, sem aviso. Deliciosamente sem aviso. Incipiente em minha própria vida, percebo uma textura nova em tudo que olho - e não via - há anos. Claro, sempre há o medo, o susto, a ânsia (e, honestamente, agradeço). Se ainda congelo diante de certas esquinas, é apenas porque arquitetei minhas ruas de modo que meus passos fossem fluidos e certos, e eu conhecia cada palmo de minhas plantas. Se meu peito ainda aperta em desconfiança e torpor a cada vida que brota pelos canteiros que passo, não é só pelos espinhos. Me rasgo inteira porque, eu sei, tudo há de vir e eu não sei como. Então me reservo o prazer de me lançar em trilhas sem fins expedicionários. Hoje eu decidi que quero ir vendo, sem catalogar pessoas, sem definir sentmentos, sem diferenciar rosas de baobás.


eu já não sei pra onde mesmo que vou,
mas vou até o fim.
{...}

sexta-feira, 3 de julho de 2009

parece dezembro.

' Quando se for esse fim de som, doida canção que não fui eu que fiz [...] eu prometo estancar o mundo e seguir o tempo, a canção, a valsa triste, a onda do mar, o meu coração. Reservo para o amanhã a escolha das promessas, a seleção das mal traçadas linhas que eu supus indefectíveis, amanhã meu único compromisso será o de arrumar meus armários e decidir, tardiamente, o que levo este ano e não mais permito que me abandone. É tanto a recaptular que este epílogo mais se aproxima das páginas explicativas, o fim de um livro que não acaba, o dezembro de um ano dourado. Se ao meu lado ele já não nada, eu só posso riscar no meu braço o mar infinito em que me encontro e criar outra recordação do lugar em que acordei pra ver o céu pela primeira vez.


parenteses.

há o dia em que se arranha o disco; quando as músicas já não (me) tocam, as vozes são só ecos secos de (não) se ouvir e os parenteses se abrem sem fechar: abrem-se para a vastidão dos sentidos, pra imensidão do que se pode entender (ou não). e eu fico aqui tentando fazer sentido - cançando madrugadas figuradas, caminhando em busca de sonhos loucos, na contra-mão do que realizo. é a premissa do desespero, exercício do desapego. há o dia em que é só você e paredes brancas. e seus olhos fitarão por hora a natureza morta. até que morra enfim suas raízes à realidade, até que se eleve então sua fé cega, sua visão de raio x (vai saber). quanto a mim, sou um ser rasteiro e involuto. neológica, fato. mas sem criatividade pra novos discos. sem vontade também.

~

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Publicar Postagem.

Um mês de expressivo silêncio - me dei esse direito. Não como quem escolhe, longe disso, eu apenas não encontrei as palavras certas, fui escrevendo e deletando o que me remetia a antigos vacilos. Eu apenas soube, cheia das vãs certezas, que não havia muito por dizer. Ainda não há. Porém, é como se limitassem a quantidade do oxigênio a qual tenho acesso dia após dia - e eu nem ao menos sei como se mede o respirar. Em verdade, não entendo de medidas. E, sobre aquelas que convivo (litros e quilos e metros e horas), ainda não vejo nelas utilidades práticas se o assunto sou eu. O que eu quero agora? Em qual escala eu peço? A quem eu imploro, hein? A quem eu vou recorrer toda vez que me disserem 'ei, garota, é só isso... nada além''? Quantos degraus eu subo e em que porta eu bato pra reclamar sempre que eu senti que eu mereço mais? Quanto, afinal, eu mereço e por que não me entregam fácil, de bandeija? Por que eu não cedo? Por hoje, passei da cota. Quero chorar rios, abraços [e]ternos e um colo imenso - sem cálculo, sem algebra. Eu quero falar um mês inteiro, todos os dias, ainda que seja em vão. Eu quero ser. O amor é, lembra?

~

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ao Mantra Invisível

os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais


eu fugia do dia em que repetir frases, entoar versos, me arrepiar em refrões já não me soasse amor. e sofrer demais seria ônus - nem regra ou brinde. e eu teria como razão o que até então era só sentir, só beleza, só febre. talvez aí eu queimasse menos em tua chama e evitasse patinar em teu gelo fino, afundar em tuas águas rasas e mornas (porque há distância entre intenção e gesto). eu andaria quilômetros, eu não sairia do lugar, nada em teu propósito. tudo por mim. quem sabe isso seja necessário, bacana, útil, doloroso. quem sabe seja pra já. eu sei que há dias em quero te entender, noutros te esqueço, o sono vem fácil; há dias em que eu rolo, desforro a cama, amarroto os lençóis; hoje eu quero tirar o que li da cabeça, o teu gosto da boca (o que ainda houver disso), limpar a pele, lavar os pés e dormir.


e mesmo assim eu sei também
que existe alguém pra me libertar.



________________________________
desisti de pensar assim, mas não desisto do que escrevo.

-

quarta-feira, 13 de maio de 2009

miro-me no exemplo

Quem dera fosse eu rasa e menor que meus sonhos. Ou fossem pequenos os sonhos e minha altura baixa não procurasse compensar-se em atitude mental dos altos píncaros. Eu queria querer o óbvio e ser boa o bastante, bonita o bastante para merecê-lo e abster-me de qualquer complexidade, qualquer colorido. Eu queria não passar da média e as vezes manter-me a baixo desta, eu queria passar em branco, em brancas nuvens. Ai, se eu fosse leve, vazia, tola e adoravelmente fútil - como as meninas que passam nas ruas em que ele senta. Então eu me entenderia ou não faria questão de fazê-lo.

~

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Queda-Livre.

Quando se tem como costume - e vício - viver voando, há apenas um problema real a enfrentar. E este passa longe do medo que congela quando tudo lá em baixo parece, e é, ínfimo; apesar de menos constante, é mais fatal que colisões com outros pássaros, aeronaves; é, enfim, pior que despencar lá do alto e encontrar-se em queda-livre, encontrar o frio e duro chão, a fria e dura morte. O que me assusta de fato é, quando em vôos cada vez mais altos, eu subo mais, eu viajo mais, eu bato mais as asas e o coração e, então, caio em mim. Sou eu quem me assusta.


~

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Possuir Estrelas II

Meu destino...
esse nunca me foi ocultado.
Sempre me foi invejado o futuro
Exacerbaram meus méritos,
e me presentearam com as constelações.

Nunca me foi dada a escolha
Disse eu que gostava de estrelas?
Não! Mas, deram-me ainda assim
Por quanto tempo eu julguei ser tudo...

E durante quanto tempo
Contemplar as minhas estrelas,
sem nunca tocá-las, me bastava...

Me prometeram o mundo
E eu, tola, julgava isso tanto.
Leram as linhas em minhas maos,
mas não se importaram, nunca,
em ler meus olhos.

Pobres coitados!... entregaram o universo
a quem queria o grão de areia.
E, quem pode ter o mundo nas mãos,
só quer traçar seus próprios mapas.
Pobre de mim, me entregaram o universo!

Entregam-me o comando dos mares,
equanto eu anseio por terra firme.
E, enquanto todos me cercam,
eu só quero poder sonhar sozinha.

E quem foi escolhida entre tantos,
não teve a sorte de escolher nada.
E eu, que gostava das estrelas,
Nao as quero mais,
Só por tê-las tão fácil.



~


Eu dominava o mundo
Os oceanos se abriam quando eu ordenava
Agora pela manhã durmo sozinho
Varro as ruas que já foram minhas


...foi quando eu dominava o mundo...



________________________________
um velho texto pras coisas de sempre ~

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Hilda Hiltz me entenderia.

"Aflição de ser eu e não ser outra. Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e se adivinha Objeto de amor, atenta e bela. Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera. (A noite como fera se avizinha) Aflição de ser água em meio à terra E ter a face conturbada e móvel. E a um só tempo múltipla e imóvel Não saber se se ausenta ou se te espera. Aflição de te amar, se te comove. E sendo água, amor, querer ser terra."


Aflição de não ser autora disso.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Texto-Voador-Não-Identificado.

Reza a lenda narrada por bocas alheias a mim e às minhas verdades que eu tenho andado alheia às ruas, à vergonha, aos códigos escritos tão antes de mim - tão velhos, tão decrépitos que eu, sinceramente, não sei bem se as línguas que hoje me chicoteiam não cuspiram desprezo e encharcaram de vergonhas os tais códigos, pelas mesmas tais ruas. Nada disso, porém, diz respeito ao que eu considero essencial no que me torno e que sempre fui; isto é tudo muito delas, não me diz respeito. Por entre as linhas da lenda que traçam em hipérboles que montam a partir do que vivo, lê-se mui clarito que eu não vou mudar, que eu não vou crescer porque não é o que busco. Porque estou sempre tão ocupada em ver e alardear o que me fazem, tão preocupada em provar ao mundo que, das coisas que eu fiz, não temos culpa eu ou as minhas vontades, é culpada tão somente a mídia, por onde escapam as verdades que supõem como minhas, tão metida em me des-culpas que não paro pra ver que, realmente, eu sou algoz de mim. Rá, piada. Não é questão de méritos, é só sobre o que se faz necessário, sobre eu imersa em minha parte podre e indelével, em meus erros, em meus litros de lágrimas. Tudo duro demais, frio demais, até que eu entendi, enfim, que se muito vale o já feito, mais vale o que será, sabe? Então vieram semanas de plenitude, sensatez e limpeza, juízo encaixado no compartimento correto e sendo efetivamente utilizado. Ainda sim era tudo duro, frio, só e eu me cobria de outras tantos entedimentos e é alicerçada destes últimos que me dou ao luxo de tirar meus olhos de mim, pedir que minhas mãos parem de tecer minha confissão e usá-los - mãos e olhos - pra mirar e lançar as pedras que eu levo comigo. Hoje, realmente, eu estou inteira me afogando em minha mágoa, remoendo minha raiva e não-entendendo como alguém que não me conhece pode me ajudar. É só por isso que eu choro, é só esse ódio que sinto. Não sou raza ao ponto de mergulhar e aprofundar-me tanto ao ponto de conhecer todas as minhas ondas, todas as moléculas de minha consciência em tão poucos dias, é por isso que não me ajudo mais. Então como pode alguém que nunca viu a MIM sem as crenças que criou sozinho sobre MIM pode agora achar que pode me fazer enxergar alguma coisa? Como pode você, doce irmã, tão metida em resolver a sua vidinha avessa, pode gastar tão belas frases de efeito em meu favor? Não, muito obrigada. Pegue seus livros de auto-ajuda, sua imensa verdade pobre e suas certezas tolas e empregue-as todas na SUA frustração. Um dia, porém, escreva um livro sobre mim, e eu o lerei aos setenta e não sentirei inveja de ninguém que esteja ao mundo vivendo e não existindo, e aqueles que o lerão hão de pensar: caralho, como essa menina viveu.

'...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

muito pra nós dois.

Oh! sunday, monday, autumn pass by me

É que há muito já passou a madrugada das delícias e o dia seguinte costumava trazer as mesmas dúvidas, esse gosto de talvez que acabava por encobrir o gosto teu, o ranço de ilusão que me invadia e tomava como incerto cada sonho, todos os planos. Para além da minha janela fechada, as árvores não dançavam ao sabor do vento e não se desnudavam cobrindo o chão num manto dourado. O outono se anunciava eterno e estático. Como se eu estivesse presa numa armadilha do tempo, conduzindo meu corpo de volta ao primeiro dia cada vez que um novo sol teimava em nascer. As pessoas na fila do pão, a manchete dos jornais, encontrar você, deixar você saber, aceitar, deixar você ir, aceitar e as pessoas na fila do pão, na sala de jantar. Como se testassem meu sim, com um interrogatório, como em tortura. Como se a espera que eu vacile, que se apague em uma negação tudo quanto afirmo. Como uma chama que insiste em iluminar sem aquecer, tremulava em meu corpo a esperança que um dia você interrompesse o ciclo, então dançaríamos por sobre a linha pontilhada, por caminhos de pedras amarelas, por beiras de mar, por aí. O medo era o sopro no fogo brando; eu acordava e me sabia presa e só, dedo furado no tear, sono eterno, sem castelos, sem remorsos, só. Tantos vezes eu gelei frente ao que ainda me faz mover: meu cansaço; eu acordava e me sabia livre, alma indomável, mais asa que peito, no auge da minha vida e sem tempo algum a perder, repassando sem saudade as paixões que deixaram de acender meu tesão por respirar, madrugadas no escuro e com frio, implorando por avidez e coragem, repassando as cenas de nós num ângulo que não me entediasse, não me revoltasse, que me matasse de saudade pra não te lembrar escuro e frio, pra te lembrar qualquer que fosse o jeito, mas lembrá-lo até sempre. Acordei hoje e me sabia tua; não no desprendimento do 'ser' para 'ser de', não - como tanto se falou - sobre teu nome marcado em brasa no meu lombo. Eu só soube de mim sendo tua, na deliciosa certeza de que assim sou porque assim quero.



And sunday, monday, years, and I agree.


___________________________
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois
~

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Bem Lembrado.

'Aqui jaz um segundo ...

Um segundo passou e não volta. Cada milésimo é único, isto é inevitável. E o que eu disse se perdeu no vão das coisas que não voltam. No buraco negro do passado. Naquela terceira dimensão que nunca alcançaremos. Não que me agrade o efêmero, mas me assusta o estático. Um dia alguém disse que 'preferia ser uma metamorfose ambulante'. Quem? Já não importa, faz tanto tempo mesmo ...'



Me foge à memória qual era, enfim, a circunstância, a motivação, o que é que passava tão rápido ao ponto de me assustar e brindar o que em mim celebra o movimento, a falta de rotina. Me foge também de qual boca essa frase fugiu pra vir bater em mim. Me assusta que, sendo o tempo tão [eterno e/porém] rápido, este texto se mantenha atual. Não me agrada a anacrônia crônica. Não me agradam as rupturas e o vento mecânico libertando os fios do meu cabelo. Dia desses eu não saí por causa do frio, hoje o tempo mudou... e eu não boto o pé na rua, não desligo o ventilador. O que? Já não importa, e que se dane mesmo o tempo... o tempo todo.



Raisa Andrade, 2006.


segunda-feira, 13 de abril de 2009

salvar como rascunho [?]

Como é, liberdade, vou ter que requentar o teu café? Vou ter que ninar tua amargura de não ser tudo que pinta, tudo que é? Já não faço muito abrindo teus olhos pro dia, lavando teu rosto em água fria e te sussurrando em segredo tudo que há de ser, tudo que será? Ah, liberdade, vê se dá um tempo; pois, se hoje o mundo é o avesso, a prisão é o que mereço pra poder respirar. E, ao próprio tempo: me conceda o prazer de uma dança e eu prometo não enrolar numa trança teus ponteiros a me cansar. Façamos assim um trato: eu de cá sigo meu passo e tu daí apaga o rastro das besteiras que eu contar. E eu vejo se deste modo vou mais alto como águia e corro longe do baixio das águas em que rompo, caio e fico. Vejo assim, ó vida, se me lanço perdida no céu que eu rabisco. Peço ainda ao espaço que não me negue quadros, não me rompa os laços, não se estenda muito, não me faça só. Pois da tristeza quero distância e da solidão que hoje me canta quero fazer fumaça, quero vê-la em pó. Eis que minha fé solúvel é o que sobra se até a minha esperança anda solta no vento que outra boca sopra. Não cede também essa sede de ver inteiro o que é só metade, as facas, os cortes e toda sorte de pedaços que eu poder angariar num abraço. E, mando avisar à estrada que o alcanço com o braço: você não perde por me esperar. Acho que vou pôr água no fogo e preparar um café novo que a liberdade precisa mesmo despertar.

terça-feira, 7 de abril de 2009

meu nome é Vaidade.




quando eu entro na história
o roteiro é só pra mim.
não aguento essa escória
que não quer me ver assim:
poderosa,
preciosa,
generosa até demais.

minha imagem dá o brilho
no cenário dos mortais



vaidade é pra quem pode
vai dizer que você não quer?


segunda-feira, 6 de abril de 2009

in-color.

Meus pés escavam caminhos de volta e enterram-se frente ao velho piano, enquanto eu ilhada em sonhos revivo em notas as bobagem de amor que ali, deliberadamente, deixei. Minhas mãos tateiam loucas a procurar essa fresta entre a confissão e o desabafo, porque é aqui que eu me rasgo. E vão ficando soltas as minhas partes, porém atadas a esta colcha de retalhos curta e quente. Peito aberto, eu tenho medo de tiros; porque percorrendo os remendos, há de se saber de mim o que eu desconheço - pontos fracos, alvos fáceis, sonhos altos. Porém, uma vez aberta a boca, fogem de mim todos os pudores e os receios, e eu posso ser. Tenho sido o que digo e não o avesso - que eu acorde para ser o que me torno, que as horas não me batam sem que eu aprenda. Cito-me, capto o que ainda me cabe do que fui nos primeiros tecidos incluídos. Talvez encaixem melhor em meus vazios as peças rotas e quentes do que esta novidade fria que eu recorto, manipulo e apresento. Continuo talhando em minha própria testa o aviso cordial, o grito do espírito, a certeza plena de que eu não sou um anjo louco, uma benção torta. Minhas asas sem pena de homens, eu experimentando as flores em janelas diversas, desperdiçando lábia, língua e face. Louca e torta. Regresso ao início e teclas pressionadas vêm me soar e bater, sem carinho ou coberta, sem sentido. Este novo trecho que alonga o que me esquenta, talvez se exponha tão simbolista que não estejam nítidas as colorações e contornos. E, ao passo que você me vê em arco-íris, eu quero tela limpa, revistinha de colorir.

estou falando grego com sua imaginação.
E eis que, menos sábios do que antes,
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim








outros pecados

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.