quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ilusion, quem sabe

Enquanto escrevo, o vento vem lá de fora aplacando esse calor, tornando minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. O que eu penso hoje é da cor da paisagem do outro lado do vidro – do céu de uma tarde que finda, os pássaros no fio de alta-tensão, da casa do outro lado da rua, da árvore que eu plantei e do pisca-pisca de natal em seus galhos. Eu espero que a noite caia e então terei pensamentos lua, pensamentos estrela. Pensamentos sonhos que fujam de mim, das minhas redomas, e alcancem em cheio aquela madrugada. Quero pensamentos do tamanho dos nossos beijos. Porque há muito nada é tão imenso ou confortável. Eu quero pensamentos que me enlacem, me tomem, me provem e me digam, ao cabo de um toque, o que eu já não quero ouvir. Eu quero sentir. Sem flores, sem dores, sem amar coisissíma alguma. Eu quero, embaixo da minha janela, um sentimento nosso que aplaque esse calor (ou não) e que torne minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. Quero sentir algo assim da sua cor: vermelho.


(beijos que apagaram os desejos que eu tinha)

domingo, 20 de dezembro de 2009

~

passou.
foi um vento que não me arrastou
não refrescou. não moveu.
passou.
e eu não fiquei.


/essesilêncioépaz

minha estupidez

Me encontrei ipsis literis* em um texto alheio a mim - como há muito não me sinto explicitada no que nessas (minhas) terras planto e colho. Faz tempo que não me entrego, já não me escancaro irresponsável e descaradamente, não. Eu seleciono, edito e enquadro as minhas imagens e é tudo sobre mim, exceto a verdade. É quando percebo que isso de amar é muito espelho. É muito de eu cobrando dele as minhas contas, o que me falta do que satisfaz, o que eu precisaria dar e não recebo. Irresponsável. Descarada. Covarde. Tem faltado é coragem pra abrir de novo peito e alma e propôr outra vez o amor e a entrega, pra acreditar outra vez - além e depois de tudo - que é possível, nisto de espelho, ser e ter paz e conforto; coragem pra arriscar a paz que eu cultivei, nisso de amanhecer só, de lamber minhas feridas e lidar apenas com os meus braços, o meu silêncio e a minha estrada (e - por que não ? - com o meu egoísmo). Ou que haja coragem então, já que não rompo com essa droga de uma vez, pra assumir que quero entre nós dois mais sentimento, que me apavora a maldição da longa estrada ( do tempo que transforma todo amor em quase nada) e que ... meu bem, meu bem {...}. Ou, talvez, não seja covardia. Talvez só me falte fé.

* do latim, 'pelas mesmas letras'. fazia sentido quando escrevi esse texto da primeira vez. porém eu estaria, como sempre, selecionando facetas da minha verdade se não assumisse que há partes do texto alheio que não me cabem. ¹ eu digo 'meu velho amor', muita vez sem dizer que é velho, mas sempre afirmando que é meu. ² que não há agora um novo amor, fato. ³ que eu preciso cantar lá do fundo do meu coração, mas não quero.

Nunca vi alguém tão incapaz
De compreender

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

de botas batidas.

Tudo são só desejos de que me invada a vida, graça e luz. Tudo é apenas um vestido e os fios de todos os planos que o tecem, é um perfume, um sabor e o mosaico que se abre em memória. É um olho anzol fisgando pra si o que eu teimo em tornar meu: minhas ânsias, meus medos, meu tesão. São pés âncoras fincadas em minha terra (outrora) firme. é teu corpo inteiro navio, barco à vela; é você canoa sempre que eu for mar aberto. Eu me desdobrando em ondas imensas, balançando teu rumo, afogando teu prumo e você, sereno. Lindo. Etéreo. Eu me revolto em ânsia literárias porque preciso sentir o que eu já não escrevo e transpasso entre vestidos e palavras todas as vontades que agora me invadem. Do portão pra lá, eu sou dos rios, da correnteza e monto cavalos arredios. Dentro em mim, a conversa é outra.

ei, vamos além?

domingo, 13 de dezembro de 2009

moon river II

eu tenho medo de olhar você. medusa. seduz meus medos, abre minhas pétalas de súbito sempre que fecha seus olhos bem devagar. ávido e precipitado. me irrita esse teu jeito enciclopédia, essa tua voz bibliografia. esse teu ser todo torto. todo errado. é insuportável responder por você. se, com você, já não respondo por mim. tudo é espumante. estourar champagne. fogos. ano novo. tudo é imensamente novo e terno. justo pra mim. meu destino certo, todo questionável. até teu silêncio me impõe questões. esse teu olhar inquisição, teu peito carrasco, teu corpo fogueira. eu inteira igreja. e os dogmas caindo ao chão. as roupas. a chuva. os corpos. e o sol caindo no mar. eu ainda tenho medo de te olhar. sereia. naufrágio. meu corpo e um vestido branco. a água percorrendo as estradas que você abriu. você é décima terceira tarefa de hércules. ícaro. o sol derretendo minhas asas. minotauro. labirinto. bolas de linha. você é todo mítico. todo sóbrio. todo credo. todo gato sem nome. esguio. silencioso. notigavo. e eu ainda tenho medo de te olhar. mapa sem x. eu, pelo que vejo, sr. quem-quer-que-seja, tenho medo é de ser sua.

moon river.

"Sabe qual é o seu problema, Srta. Quem-Quer-Que-Seja? Você é medrosa {...} Pessoas se apaixonam e pertencem umas às outras. É a única chance que têm de serem felizes. Você acha que é livre e selvagem, e morre de medo de ser enjaulada. Bom, querida, você está na jaula que você mesma construiu {...} Estará sempre nela. Não importa para onde corra, estará sempre trombando consigo mesma"

Certas coisas que vêm antes, são ditas tão depois. E nos encontram quando já não buscamos, sendo anúncio, dèjavu, prâmbulos ou mesmo lembranças. Assim me disse ele, talvez não com estas palavras. Talvez não nessa cadência. Por certo, nessa intenção. Tenho a sensação de que eu sempre conheci tal ensinamento, e nunca o soube. Agora é como se tudo se descortinasse. Como se eu devesse agradecer à vida os caminhos, os tropeços; o peito em disparada, o receio , a paz, a pressa; o econtrá-lo. Tudo é tão seguro e, ao teu lado, o espelho não me mostra nada além do meu sorriso no futuro. Só agora. Para sempre. Estranho como tudo isso é sólido e efêmero. Não nos pertecemos n[os dois. Apenas nos encontramos deste - ou do outro lado 0 do rio, e desde então nos oferecemos verdadeira companhia. E por isso sou tão sua quanto você é meu. E isto é tanto. Somos melhor assim, em par. Sem solidão. Com calor. Talvez eu enfim saiba o que eu sempre conheci. O amor é livre. É lindo. E eu mereço. Para sempre. Só agora.

Ele está certo. Não está, gato?


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

outro samba.

-

hoje eu quero apenas
UMA PAUSA DE MIL COMPASSOS
para ver as meninas
e nada mais nos braços.

se for preciso, eu repito:
porque hoje eu vou fazer
ao meu jeito eu vou fazer
UM SAMBA PARA O INFINITO'

{...}


(8)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

back to basics

Passado o vazio, tudo agora sobra.A vida toda em pleonasmo. Cada frase reafirmando a anterior, e eu sinto que posso limar todas de todos os livros, dos textos, dos outdoors. Tudo é exagero. Tudo sufoca. Canções são tantas, tocam tanto e tão juntas que seus versos não sei distinguir. Tudo é inútil. Tudo é inócuo. Fazendas cacaueiras. Saara. Castelos de deputados. Tudo se extende sem ser grande. Tudo carece de sínteses. Bíblias comentadas, verdades curvas desdobrando-se em metáforas vãs, masturbação eterna > Romances de uma linha, flores de quatro pétalas, direita e esquerda apenas. Tudo transborda. Nada preenche. Noé e sua arca não nos livram desse diluvio de cores. Essa maré cheia de formas. Tsunami. Chico. Sotaque francês. Camões. Almodóvar. Frida Khalo. Kamasutra. O que foi feito do simples? Zé da Luz. Indoeuropeu. Haikai. Cinema mudo, P&B. Gozar.

/Ctrl + A, del.






terça-feira, 8 de dezembro de 2009

sede.

te amarro. te amargo. te amalgo.
te como. te deito.
te deixo.
eu te espero.
sento, e te espero.
me sento em ti.
e te como. te deito.
te deixo ficar.
te beijo.
te abraço.
te limpo. te lavo.
te largo.
te rasgo.
te cego.
te rego. te podo. te planto.
te vejo crescer.
te olho. te ouço. te sinto.
eu te sinto.
eu te adoro.
e odeio.


eu te água.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bon Apetit

Livro aberto na página certa, a memória aguçando os sabores, a panela a espera dos ingredientes. Mãos hábeis em cortar temperos, os tomates em cubos, as cebolas delicadamente fatiadas e o alho prensado exalando olor como a afastar os maus agouros de uma velha canção. Enquanto refogava, o vapor tomava a cozinha naturalmente quente e eu sentia o fogo brando limando qualquer resquício de outras receitas, qualquer dissabor. Nunca tive os sentidos tão intimamente ligados – era o cheiro do molho caseiro a me invadir narina adentro, as papilas já podiam supor o gosto novo, surpreendentemente, delicioso, o tato desvendava outras texturas e as pupilas dilatavam pra adaptar-se a semiluz ou como resposta ao interesse pulsante. Em água fervente, o macarrão jazia cozido, macio, solto, salgado no ponto, eu – ciente dos meus dotes, mas ansiosa por elogios – servi massa e molho numa travessa velha, deixei o queijo ao gosto do freguês e qual não foi minha surpresa ao ouvir num sotaque genuíno a canção que embala minha fome.

- Casa comigo, mulher?

[~]

domingo, 6 de dezembro de 2009

200º

De algumas coisas a gente se liberta. De outras tantas, livra-se. Existem pesos e existe pesares. Para cada palavra – e todo sentimento – abre-se uma porta e, a partir dessa, milhares de possibilidades. Porque o vernáculo é amplo e restrito. Porque o saber é amplo. O sentir, irrestrito. E, se penso este texto com o peito, volto a ser vernáculo. Outra vez amplo, irrestrito, se estendendo pela superfície e mergulhando ao fundo de cada palavra – e todo o sentimento. São duzentas as viagens, inumeráveis os destinos e o sem-fim de caminhos que trilhei partindo desse ponto inerte e que abandonei quando um outro templo cintilou mais convidativo lá ao longe. Tudo é templo. Aquele corpo, uma pedra, aquele monte de areia branca onde eu deslizei como se à beira de um vulcão prestes a explodir. Explosões são templos e eu as venero. Fico de joelho diante o que é explosivo ou construtor. Só as palavras solidificadas não me arrancam adoração. Palavras que não edificam ou demolem são palavras que não abalam. Todas elas abalam se em teu tom. Certas palavras brincam d esconder seu poder, seus reais significados ou – como gêmeo em novelas – ora dizem algo pra outr’ora – transvestidos de si mesmos – contradizer-se. Eu tenho lá minhas cismas com o português, especialmente o bem falado. Gosto como em francês primeiro se diz que ama para depois esclarecer o não mais*, enquanto pras bandas de cá somos diretos e nada sutis ao dar os primeiros passos com uma negação: não te amo mais. Negações constroem o que o amor pôs no chão. Ou o oposto. Já não sei. Uma ducentésima vez, venho aqui pra explicar algo e saio assim, confusa e leve. Livre de tantos verbetes, acabo por me livrar de mim.


*
je t’aime – mon non pluis.

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.