segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bon Apetit

Livro aberto na página certa, a memória aguçando os sabores, a panela a espera dos ingredientes. Mãos hábeis em cortar temperos, os tomates em cubos, as cebolas delicadamente fatiadas e o alho prensado exalando olor como a afastar os maus agouros de uma velha canção. Enquanto refogava, o vapor tomava a cozinha naturalmente quente e eu sentia o fogo brando limando qualquer resquício de outras receitas, qualquer dissabor. Nunca tive os sentidos tão intimamente ligados – era o cheiro do molho caseiro a me invadir narina adentro, as papilas já podiam supor o gosto novo, surpreendentemente, delicioso, o tato desvendava outras texturas e as pupilas dilatavam pra adaptar-se a semiluz ou como resposta ao interesse pulsante. Em água fervente, o macarrão jazia cozido, macio, solto, salgado no ponto, eu – ciente dos meus dotes, mas ansiosa por elogios – servi massa e molho numa travessa velha, deixei o queijo ao gosto do freguês e qual não foi minha surpresa ao ouvir num sotaque genuíno a canção que embala minha fome.

- Casa comigo, mulher?

[~]

Um comentário:

Daniella Souza disse...

Eu no teu lugar casava e tinha filhos!;]

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.