domingo, 29 de novembro de 2009

tropicália.

Estão de volta o sol e aquelas canções. A pele retoma o seu tom, ouro. E a boca torna a experimentar ora o sal, ora o doce. A vida inteira, como se encenando dois atos em interminável justaposição, vagueia entre a leve brisa e rajadas de um vento sul. Tudo agora é quente, ignoramos a existência de corações que formam um belo par com uma boa dose de uísque. Digo mais: tudo agora é coração. Palpites, disritmias, acelerações, sopros, tudo ainda pulsa, e o corpo – involuntariamente – se entrega à sorte; às vontades, aos sabores, aos prazeres, às delícias. Todas as coisas ganham cores, vibram, latejam, sorriem e as palavras se encaixam num sabe-se lá o que das danças caribenhas. Porque estão de volta o sol e aquelas canções.


e que tudo mais vá pro inferno.


[~]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

 

minha criança,
por que chora se as lágrimas vão mesmo secar?


grite
. grite. grite.
/mas grite baixo
____


{...} é tudo culpa da prisão, do claustro, do dia errado, da música que nós paramos de cantar. eu tava calma, eu tava quieta, tava guardada no meu canto, trocando teorias com um anjo. eu tenho fome, eu tenho pressa, eu tenho alcool, mas o que me interessa são as memórias que eu quero esquecer.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Veraneio - um sonho

Sonhei contigo. Mesmo inconsciente, eu sei seguir nosso roteiro: minha chegada, sua percepção, a farsa do não querer, a dúbia certeza de que não posso, nossa roda-gigante, pega-pega, pique-esconde. Apenas o cenário era inédito... um estofado azul marinho, grosseiro e desconfortável, numa sala pequena e comprida, amarela, cheia de olhos em nós. Sua mão segurando a minha, um carinho casto em meu braço esquerdo, meu corpo inteiro ali e o pensamento voando longe, e você sussurrava três elogios, um par de convites e um só pedido: me queira. Acordei ainda com o eco do que você pede e eu, tavez, deseje. Me acostumei tanto a levar nós dois de um jeito bem nosso, bem do jeito que eu quiser, que me assusta a possibilidade de te obedecer. Eu bem que podia te querer e matar um dragão por dia só pra estarmos juntos, seus braços emoldurando meu corpo como gesso tomando a forma do molde, me cercando, gradeando, privando o oxigênio de tocar em mim. Quem sabe eu feche os olhos e te sonhe outra vez, talvez eu te ligue ou você me procure; mas neste ato eu saio de cena. Eu quero te ter, eu não quero ser sua e, se é pra te deixar assim, pra que eu vim, né?


eu não tava dormindo
justo ao contrário {...}



~

in-Sone.

A cabeça dói e a preguiça cola o corpo na cama. Me nego, adio, procrastino, reprogramo o despertador e então desperto. De perto, eu ainda sinto o cheiro dos meus lençóis e, mesmo ao longe, já despontam as olheiras, o tom pálido, um ar de quem cansou e ainda não sabe do quê. Esqueço a pia aberta, a água no fogo secou de tanto ferver e eu ainda encaro meu outro eu, ainda mais apático. O banho é longo, religioso e difícil – é talvez neste ponto, na lucidez que flui da água, que rompo a barreira entre o que sonho e o que tem fibra suficiente pra resistir à liberdade (Na frase anterior, eu quis ter dito ‘realidade’, palavra inconveniente... É que ainda agora eu sinto o sono de hoje cedo, e é ele quem confunde minhas idéias). Protegida em minhas toalhas brancas, todas brancas e manchadas de rímel ou pó, abro os armários, analiso peça à peça e faço as mesmas escolhas da semana passada – meu armário é maquete de todo o resto. Tropeço até a sala, erros as chaves todas tão iguais, tombo nos degraus, derrapo nos plurais e entro no primeiro ônibus que pára quando bato a mão – todos nós sabemos o que dizem sobre qualquer caminho servir aos que não sabem aonde vão. São, então, mais destinos, degraus e plurais. Tudo é tão plural agora, mas assume uma consciência ímpar, prima-irmã daquela outra da infância – incrível como são infantis esses ditos maduros! Incrível como eu amadureci anos esses meses. Teimo na repetição de clichês, roupas, palavras, atos e autos. Porque a cabeça dói e a preguiça cola meu corpo no passado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

regra três

Escombros de vida, a poeira à cima do chão, cacos e mais cacos. Incrível como nos vi ali no entulho de sua casa demolida. Fomos lar de toda sorte. Nossas paredes coloridas, a cama de casal, os bancos da varanda, os corredores, a saleta da TV e o meu sorriso. No nosso quintal brotava uma orquídea rara e logo crianças e cachorros correriam pela grama. Uma verdade falsa como casas pré-fabricadas em papelão. A culpa vã, o vento leste, a chuva de verão, um rabo de saia e lá se vai parede, cama, quarto, sala, filhos, sorriso. Lá se vai a minha aposta! Uma oca, um iglu, um colchão de água, uma cabaninha de acampar, uma casa de madeira sobre as árvores - tudo é mais sólido que nosso lar de concreto. Eu quis rir do teu lar desfeito como gargalho de não mais lembrar você.

tem sempre o dia em que a casa cai
pois vai curtir teu deserto, vai.




Veraneio - prefácio


Certos versos precedem a percepção de qualquer presença e suprimem, em rimas, lacunas de outras estações. Eu era memória de um dezembro ainda não vivido, era frio de um inverno mornamente congelante, rodeada de um fogo que não esquentava, envolta em lençóis rasgados, eu sentia calor no Polo Norte, tudo em mim desafiava as leis metereológicas quando você chegou. Era maio e chovia. Minto, talvez fosse fevereiro, a lua talvez encadeasse um céu salpicado de estrelas, o sol tavez tivesse estado muito quente durante o dia, eu não sei. Todos os meus sensores de temperatura estavam, como em ligação direta, plugados a uma fonte fria. Eu fiz que não te via. Há um código de ética, por assim dizer, em vidas que andam juntas: perguntas são raras, ligações também, perdões são necessários, fidelidade é esperada. Eu não te esperava chegar. Diria não a mil homens, mil línguas, zilhões de convites. Mas já era maio e {eu} chovia quando você pôde revelar-se. Era água fresca e eu já tinha corrido léguas, era acalanto com essa voz macia e suas rimas bobas. Eu desfilava uma aliança invisivel e meu corpo sem portas precisava de um homem-muro. Você foi interrogação pros meus dogmas, minha revolução eucaristica, o vislumbre dos defeitos do meu amor perfeito, a compravação da nulidez do que é eterno mas não funciona no dia-a-dia. Eu te esperava chegar por todo o inverno pra trazer calor e fresca. Tua língua treinada me convidava à vida, ninguém além de mim poderia recusar, ou entender.

ao Meio: desculpa. Mais uma vez eu te digo que você foi consequencia e não causa, que você faz parte do mundo e não do amor. Mas você me fez feliz e leve, e por isso eu só agradeço
à fonte: te perdôo por te trair.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Closer.

Did you love me?

I'll always love you. I hate hurting you.

Then why are you?

'Cause I'm selfish. I think I'll be hapiier {...}

You won't.
You'll miss me.
No one will ever love you as much as I do.
Why ins't love enough?

{...}

/é bem por aí.

domingo, 8 de novembro de 2009

Veraneio III

Há neste encontro um roteiro pronto, absurdamente distinto do habitual. Tua chegada, meu eu troféu, meio seu sem ser e a estampa esfinge como em nanquim no teu rosto. Bonito, ainda me surpreende tua desenvoltura, teu efeito palco, teu sorrir sob as luzes, teu olhar ensaiado, teu alvo novo. Rídiculo, me assusta a forma tal que meu ciúme assume, o corpo que reinvento pra te provocar, o cabelo outra vez solto, as pernas outra vez bambas, nuas, loucas e suas - uma outra vez como nunca antes. Minha figura cada vez mais próxima, mais viva, mas límpida, eu não me quis esconder. Permiti aos meus pés a dança em par, os quase-beijos, as meia dúzia de sorrisos e a minha língua - díscipula da tua - te convidava à vida, impossível aceitar. Era eu ou o presente de São Jorge. Era eu, meus nãos, minha meta-vida, ou a vida que se abria inteira. Era ela ou era eu, que é quase nada. Serão ainda muitas canções, serão metades, será você ao meio, será até sempre ou até quando se partir uma corda - outra vez, como nunca antes.

pra me deixar assim,
por que é que você veio?

~

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.