segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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desesperadamente
eu grito em português:



Todos os dias eu marcho rumo a lugar algum. Todos os dias, eu pretendo não ir. Tomo o elevador como se descesse lances de escadas arrastando os pés degraus abaixo, repassando as canções de exílio, atrasando o passo, adiando a hora em que nos encontramos eu e meus portais. Em pé na esquina da avenida, espero que o ônibus venha a vapor, que não se demore, que me leve dali. Uma vez em suas poltronas eu sou parte do estofado, do chão, dos pneus e sigo para muito longe do aqui havia antes - quando eu era eu e era só. Vou assim com a pressa louca de deixar o cais e ainda com a calma imensa dos que têm todo o tempo, todo o mundo, todos os planos. Desço e escolho os caminhos mais longos, os passos mais curtos, as caronas mais lentas. E tudo são outra vez degraus, outra vez pressa e para sempre muita preguiça. Não há X no mapa e - como armadilhas em tumbas de faraós - as paredes se contraem em volta de mim e parecem sugar o ar que meus pulmões tanto anseiam. Todos os dias eu marcho rumo ao único lugar onde caibo. Todos os dias eu pretendo não voltar.

{...} Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda.


sábado, 19 de setembro de 2009

Trabalho Silencioso

À noite, todos os sons são baixos. Dizem que é justo o oposto: que o escuro turva o colorido, parda os gatos e, aguçando os medos, faz dos barulhinhos do silêncio um trio elétrico de mal-agouros. Não pra mim. Desligo as luzes e pauso o mundo do outro lado da janela apenas para me ouvir, e o barulho que faço abafa a sinfonia lá de fora e os acordes dissonantes do vento, fico surda às vidas alheias em alto e bom som. No teto, minha tela de cinema (♪) reproduz em sound round as falas do meu peito e só eu as dou ouvidos, porém a trilha sonora de uma outra película - já tão gasta - parece fugir pelos alto-falantes e se espalha por entre os carros, por entre as pernas, por entre as mãos dadas, soltas e desobedientes. Em braile, eu leio tateando minha própria pele, meus próprio contos, meus vários sons. Só creio na verdade que encontro escrita, mimeografada em poesia na síntese lírica do vivi em cores e nas letras que permanecem reluzentes em neon ainda que eu tranque todos os sons e apague todas as portas.


no silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez.

vai pegar feito bocejo

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

dulcíssima.

 



bruta flor do querer

ah, bruta flor
bruta flor "



 

 

Tudo são só desejos de que me invada a vida, graça e luz. Tudo é apenas um vestido e os fios de todos os planos que o tecem, é um perfume, um sabor e o mosaico que se abre em memória. É um olho anzol fisgando pra si o que eu teimo em tornar meu: minhas ânsias, meus medos, meu tesão. São pés âncoras fincadas em minha terra (outrora) firme. é teu corpo inteiro navio, barco à vela; é você canoa sempre que eu for mar aberto. Eu me desdobrando em ondas imensas, balançando teu rumo, afogando teu prumo e você, sereno. Lindo. Etéreo. Eu me revolto em ânsia literárias porque preciso sentir o que eu já não escrevo e transpasso entre vestidos e palavras todas as vontades que agora me invadem. Do portão pra lá, eu sou dos rios, da correnteza e monto cavalos arredios. Dentro em mim, a conversa é outra.
~

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

L'Amoureuse

Il semble que quelqu'un ait convoqué l'espoir
Les rues sont des jardins, je danse sur les trottoirs
Il semble que mes bras soient devenus des ailes

~

A música em meus ouvidos nunca foi tão doce e a cada dia torna-se mais colorido o verde que me cerca. Se estive envolta em mar, tonta de navegar ou hipnotizada num labirinto caramelo, devo confessar que - tal às najas ao som da flauta - eu tenho dançado e me erguido por um único sabor. E é mel. É encanto, é prelúdio de paixão e é um pé-ante-pé nos degraus pra que eu não tombe do alto em que me ergue este sonho. Há porém a doce ilusão de que, caso eu caia, (re)pousarei em brancos braços que me alçarão de volta aos céus com suas asas e seu beijo, mel.


Qu'à chaque instant que vole je puisse toucher le ciel
Qu'à chaque instant qui passe je puisse manger le ciel
Car je suis l'amoureuse.
~ ~ ~

Ao Mantra Invisível II

É isto um brinde à boca sem gostos, ao peito sem máculas, aos sábados sem dissabores e ao próprio dissabor sem mim. É esse teste-texto apenas um viva à vida que se expõe límpida e clara: uma folha em branco. Sou eu me transfigurando em palavras pra dizer que escolhi novas cores, novos sons, outros encantos.



Hoje eu entendi:
sonho não se dá, é botão de flor.
{...}



~

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.