À noite, todos os sons são baixos. Dizem que é justo o oposto: que o escuro turva o colorido, parda os gatos e, aguçando os medos, faz dos barulhinhos do silêncio um trio elétrico de mal-agouros. Não pra mim. Desligo as luzes e pauso o mundo do outro lado da janela apenas para me ouvir, e o barulho que faço abafa a sinfonia lá de fora e os acordes dissonantes do vento, fico surda às vidas alheias em alto e bom som. No teto, minha tela de cinema (♪) reproduz em sound round as falas do meu peito e só eu as dou ouvidos, porém a trilha sonora de uma outra película - já tão gasta - parece fugir pelos alto-falantes e se espalha por entre os carros, por entre as pernas, por entre as mãos dadas, soltas e desobedientes. Em braile, eu leio tateando minha própria pele, meus próprio contos, meus vários sons. Só creio na verdade que encontro escrita, mimeografada em poesia na síntese lírica do vivi em cores e nas letras que permanecem reluzentes em neon ainda que eu tranque todos os sons e apague todas as portas.
no silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez.
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez.
vai pegar feito bocejo
4 comentários:
só sentindo, vê
Há dois tipos de silêncio. Na verdade um completa o outro. No primeiro todo som lá fora ganha altura, imenso, e esse vc pula. O segundo é mais profundo, e nesse que vc vive; só o nosso som é ouvido, nossos pensamentos, e ainda mais, como se uma porta secreta fosse aberta, e temos acesso à coisas maravilhos.
Talvez nao tenha nada a ver, mas vai essa passagem, que é + - assim:
Se as portas da percepção fossem purificadas, o homens veriam as coisas como eles realmente são; infinitas. Blake
Blake cabe, sempre tão bem vindo.
quando se alia ao infinito então...
:)
Eu queria patentiar o Willian pra mim. rs.
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