sábado, 19 de setembro de 2009

Trabalho Silencioso

À noite, todos os sons são baixos. Dizem que é justo o oposto: que o escuro turva o colorido, parda os gatos e, aguçando os medos, faz dos barulhinhos do silêncio um trio elétrico de mal-agouros. Não pra mim. Desligo as luzes e pauso o mundo do outro lado da janela apenas para me ouvir, e o barulho que faço abafa a sinfonia lá de fora e os acordes dissonantes do vento, fico surda às vidas alheias em alto e bom som. No teto, minha tela de cinema (♪) reproduz em sound round as falas do meu peito e só eu as dou ouvidos, porém a trilha sonora de uma outra película - já tão gasta - parece fugir pelos alto-falantes e se espalha por entre os carros, por entre as pernas, por entre as mãos dadas, soltas e desobedientes. Em braile, eu leio tateando minha própria pele, meus próprio contos, meus vários sons. Só creio na verdade que encontro escrita, mimeografada em poesia na síntese lírica do vivi em cores e nas letras que permanecem reluzentes em neon ainda que eu tranque todos os sons e apague todas as portas.


no silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez.

vai pegar feito bocejo

4 comentários:

Victor Moraes, disse...

só sentindo, vê

Rui disse...

Há dois tipos de silêncio. Na verdade um completa o outro. No primeiro todo som lá fora ganha altura, imenso, e esse vc pula. O segundo é mais profundo, e nesse que vc vive; só o nosso som é ouvido, nossos pensamentos, e ainda mais, como se uma porta secreta fosse aberta, e temos acesso à coisas maravilhos.

Talvez nao tenha nada a ver, mas vai essa passagem, que é + - assim:
Se as portas da percepção fossem purificadas, o homens veriam as coisas como eles realmente são; infinitas. Blake

Raisa Bastos y Rodrigues disse...

Blake cabe, sempre tão bem vindo.
quando se alia ao infinito então...

:)

Victor Moraes, disse...

Eu queria patentiar o Willian pra mim. rs.

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.