segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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desesperadamente
eu grito em português:



Todos os dias eu marcho rumo a lugar algum. Todos os dias, eu pretendo não ir. Tomo o elevador como se descesse lances de escadas arrastando os pés degraus abaixo, repassando as canções de exílio, atrasando o passo, adiando a hora em que nos encontramos eu e meus portais. Em pé na esquina da avenida, espero que o ônibus venha a vapor, que não se demore, que me leve dali. Uma vez em suas poltronas eu sou parte do estofado, do chão, dos pneus e sigo para muito longe do aqui havia antes - quando eu era eu e era só. Vou assim com a pressa louca de deixar o cais e ainda com a calma imensa dos que têm todo o tempo, todo o mundo, todos os planos. Desço e escolho os caminhos mais longos, os passos mais curtos, as caronas mais lentas. E tudo são outra vez degraus, outra vez pressa e para sempre muita preguiça. Não há X no mapa e - como armadilhas em tumbas de faraós - as paredes se contraem em volta de mim e parecem sugar o ar que meus pulmões tanto anseiam. Todos os dias eu marcho rumo ao único lugar onde caibo. Todos os dias eu pretendo não voltar.

{...} Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda.


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Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.