sábado, 23 de fevereiro de 2008

Decadence avec elegance

Baby doll, pés descalços e, do rabo de cavalo, voam uns fios dourados, nas unhas ruídas ainda dá pra ver qualquer resquício do que, um dia, foi um esmalte vermelho. Lhe falta um cigarro marcado de batom entre os dedos e um copo de extrato meio-cheio de um vinho barato... mas lhe sobra na alma um quê do sereno das madrugadas. Desce assim de elevador até a garagem - ela tem medo de garagem e de elevador e de ficar só. O lixo em uma das mãos e a outra descrevendo ondas no ar enquanto ela cantarola Piaf. Escolheu a música errada, isso lá é hora de perguntar 'a quoi ça sert l'amou'? Então ela devaneia, se perde entre as lembranças da calçadas, dos violões, as rodas sem começo ou fim e os amores de hora marcada. Godard agradece o fato daquela porta não ter sido aberta em qualquer andar, ou ele se culparia eternamente de não ter estado lá, ele e uma câmera. Mas nem mesmo ele, nem mesmo Van Pelt ou V.Mo, não há lente que absorva o que há ali e do que há ali tão desigual. Acreditou-se um dia que fotos roubavam almas, só assim daria pra tornar físico o que se sente no ar. O que faz dela tão glamourosa e tão decadente passa longe de Pradas bambos, batom borrado, sarjetas, canções e olhos de ressaca - o que não impede de estar presente em tudo isso. O que faz dela ex-dançarina do Moulin Rouge é essa sua vontade de viver dez anos em mil, mas nunca parar de viver catando migalhas do que foi um dia. A propósito, ela nunca foi diferente.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sabe o que eu queria agora, meu bem?

Esse modelo de publicações semanais é uma afronta à alma do Deusa Menina ... há tanto a dizer, tantas coisas que eu sinto e só cuspo aqui. A cidade lá fora é insensível e fria, até as pedras do caminho me soam mais receptivas que os cumprimentos por pura educação. Acho que só as pontes amarelas sabem de mim; sabem quantas vezes passo por ali, me apoio, penso em atalhos, me prendo a qualquer poesia nisso tudo, respiro e continuo andando; só elas sabem o que só minha língua diz. Minha boca não abre. O complexo de cigana obliqua dissimula cada dor. Às vezes coloco tudo que sinto em ordens, formulo frases e textos e desabafos, recolho tudo e engulo outra vez. Aquilo vai formando um nó e vem um desespero, eu quero gritar, quero sumir, quero é chorar ... mas eu nem choro. Entôo meu mantra pessoal: vai passar, vai passar, vai passar ... você vai crescer, vai estar lá, vai ver tudo, vai vencer ... vai voltar. Mas nada afasta o medo de ser tão pequena e indiferente e vazia quanto o mundo em volta me faz parecer. Eu tenho medo que alguém pinte minhas paredes de branco, que cortem as árvores dos caminhos por onde sempre andei, que quebrem os bancos da praça, que fechem a capela que eu nunca via aberta, que privatizem meus eucaliptos, que construam um prédio bem em frente a minha janela, que o padeiro esqueça a receita do palmier, que calcem a rua que um dia eu sonhei ladrilhar, que tudo que há de mim solto por aí vá se perdendo e se dissolvendo e diluindo e esvaindo até o dia que não haja mais eu em nada. Tenho medo que meus amigos me esqueçam, que contem seus pesadelos e coisas fúteis a alguém mais legal, inteligente e presente, que ele não ache alguém assim e se apaixone do mesmo jeito, que esse texto fique longo demais, triste demais. Que ninguém leia. Que leia ou nem ligue. Ou ligue querendo saber se cortei os pulsos ou se tenho procurado qualquer outra ‘saída de emergência’. E agora Vander Lee canta aquela músiquinha piegas pra mim ...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Foda-se !

Se a comida era sem sal
Se enfiou o pé na jaca
Se alguém chutou o pau da sua barraca
Se ele não foi honesto,
antes que você exploda:
- ctrl alt del -
e o resto que 'títulodopost' !
Se seu time não ganhou
Se ainda não é fevereiro
Se a patroa te deixou cabreiro
Se o sinal está vermelho
Se a fé lhe pôs de castigo
Amigo, aceite esse conselho .
Se você não é bem vindo
Se a mala não tem alça
Se a barriga tá saindo fora da calça
Se nunca ninguém te entende
Se era vidro e se quebrou
Se ainda se arrepende do que passou :


Deixa pra lá, meu irmão ~
D e i x a p r a l á !
- aperte o botão -
Não leve isso taaão a sério














___________________________


p.s.¹: 'me libertei daquela vida vulgar' , entendam.
p.s.²: mãe, se te conforta, 'isto' é um mantra do zen-budismo, juro e juro !
p.s.³: Narraus, dei preferência aos textos em verso. Gostou não? F o d a - s e .

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ainda é cedo

Eu gosto de dizer adeus, é doce o sabor ardente de me negar. Gosto de abandonar, de fugir, de voar para longe. Mas a delicia vem exatamente de escolher ir embora. Quando me despedir é a única opção presente tudo perde essa cor furtiva de se possuir. Hoje o adeus só me traz uma angustia sem fim. Me pego pensando em qual dos proximos capítulos vai chegar o entrocamento em que cada um toma seu rumo, se as fotografias serão as últimas e mais fieis lembranças de nós ou se esqueceremos nossos nomes, se não honraremos nossas promessas e se as canções irão se dissipar no vento com nossas vozes. Num cinco de fevereiro enterro essa idéia absurda do tudo tem que ser como se é, hoje eu acredito em escolhas. Há sempre um vírgula em qualquer lugar, uma pausa pra que você possa decidir quais serão as proximas linhas. Não quero escolher pontos. Antes do cordial 'bom dia' aos céus, eu quero vírgulas, breves vírgulas, afinal, conheço as respostas certas de todos os meus desejos. É tão simples, vocês me ensinaram e é por vocês que eu digo : só o amor é luz . Se isso vai acabar? Se aceito que caminhemos sempre juntos? Se aceito dividir com vocês os meus dias? Por todos os dias da minhas vida - Sim ! - O amor é sempre amor; levo vocês em minh'alma, onde quer que eu vá; divido minha vida, vocês são minha vida e a morte não nos separa.

Asas ... !

Ela disse que tem voado tão baixo. Vôos rasantes. Daqueles
que a gente sente congelar a alma! O chão nunca esteve
tão perto e, em outros tempos, os segundos duravam menos.
A gente até consegue se ver aos caquinhos lá embaixo e
pensa que, caso aconteça tal tregédia, não mais voltaremos
a voar. Talvez é dessa dor que venha a força necessária e
então nos reerguemos. E o céu é meu, é rima e é solução.
É nosso ... nós fazemos por merecer. Construímos nossas
pistas de pouso, voltamos ao ninho e até renascemos
das cinzas. São mesmo indefectíveis esses artistas com alma
de passarinho, ou seria o contrário? Vai saber. Tenho
mesmo é pena das galinhas. Atrofiam suas asas, se contentam
com migalhas. Meu papo só enche com muito e de vez.












_____________
enquanto pisas no chão,
minha alma salta
e ganha a li ber da de
na amplidão




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

ainda somos os mesmos e vivemos.

Ao contrário do que era costume do lugar, naquele dia não apagaram os vestígios de que houve um anterior àquele. E, ao contrário do que era mais que costume, era tradição, ela estava ali ... e não se atrasara. Girava a maçaneta tão devagar, desejava ouvir passos subindo as escadas, esperava ainda que alguém subisse e fizesse isso por ela. Ninguém veio. Quando o sol se esconde atrás de uma nuvem e não esquenta a água, é melhor pular de vez, é o que dizem. Ela pulou. Era a mesma sensação, o frio fazia parecer que em volta tudo era alfinetes a espetá-la, e era. Sentou-se no palquinho como se fosse um vulcão extinto e dali, olhando pra frente, ela enxergava todo um passado. E com os seis sentidos aguçados pelo vazio, ela foi catando lembranças, como um cego tateia no escuro - se houvesse luz, ela tatearia ainda assim. Podia ouvir ao longe os burburinhos, as canções - marinheeirosó - as fofoquinhas, conversas, eis que os nervos se alteram e ela ouve gritos! Fumaça ... era o único cheiro presente. E, você sabem o que dizem, onde há fumaça ... então, ela foi queimando fotos, flores, papéis e a si mesma. Afinal, havia ela em tudo que estava ali e, mais ainda, no que permanecia ausente. Num ato infantil, porém, milimetricamente calculado com a astúcia dos adultos bobos, ela se arrependeu, recolheu os cacos e as cinzas e guardou de volta no peito. E os tais passos, que ela nem desejava mais ouvir, estavam ali. Cada vez mais alto, mais rápido, mais próximos. As pessoas iam entrando e, como se aquilo fosse só uma sala, cada qual procurava seu lugar, sentavam-se e tocavam a vida como sempre fazem os que enxergam com os olhos. Absurdo! Pra eles, repito, era só uma sala. Pra ela, na parede da memória, não há quadro a doer mais.

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.