segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

se eu soubesse

eu vestia a mesma camisa - flores estampadas sobre o luto - e ele trazia no peito aquela cidade que eu queria inundar. como no começo, só que por fim. o samba que bate em meu peito são apitos, buzinas - o som que sua presença fez calar. dói. fita cassete rebobinada com uma caneta bic, volto seis casas pro inicio do jogo. é a dor deste cheque, daqueles olhos no tabuleiro enquanto os meus pousavam naquelas mãos, de um outro cheque que não doía porque havia um rei. minhas flores sobre o luto são guirlanda sobre cova. sobre cama. sobre pena. era sobre isso e nada além, por isso dói. eu vestia quase nada ou nada, vestia sua pele, suas palavras, seus amigos e o nome que ele me deu pra que eu fosse sua. eu vestia a mesma camisa, hoje eu visto milhares de panos, caimentos loucos, cores, texturas, enchimentos. eu estou vazia.

Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole, outra vez
Não dava mole à tua pessoa
Te abandonava prostrado a meus pés
Fugia nos braços de um outro rapaz

terça-feira, 28 de junho de 2011

pra mim... não tão meu
um último... pela milésima vez:




... uma angustia cinza

uma tristeza monocromática.
este céu nublado, tão pesado
a vida correndo em preto e branco
na contramão, tanta fumaça
meu pulmão fraco.
a camisa desbotada, o coração rasgado.
Teus olhos, teus olhos
sempre os teus olhos
flecham a minha essência
e a escuridão da minha alma,
no instante derradeiro, se desfaz e
se ilumina e se transforma em arco-íris
no fim de tarde ...


saudade... e o amor de sempre.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

03 a.m.

e eu ainda fito o teto. como se qualquer resposta pretendesse despontar do oitavo andar e, escorrendo pelo lustre, iluminar minhas questões. eu ainda espero respostas. há um e-mail. um convite. uma língua. um estorvo. duas fatias de pizza na embalagem pra viagem. eu leio os nomes que já decorei, decoro números que não vou chamar, chamo quem não devo. eu ainda invoco o passado. amanhã vai chegar em dois tempos e eu ainda troco de lugar as peças no meu passado maquete. e engulo as bordas recheadas da minha pizza favorita. porque é assim que eu sou, é disso que eu gosto: beiradas. se gosto, mordisco. me visto profunda, visceral, engajada, mas me preencho superfícies. lambo os dedos, finjo saciedade, movo as peças do meu passado maquete. se eu estivesse nesse e não naquele cômodo, não nua. supor é tão futebol de botão, arriscar é morte súbita. e eu engulo quilometros de bordas recheadas. eu me boicoto. tenho uma alma gorda de restos de pizza e de livros que li e de amores que cessaram sem acabar. eu interrogo o teto em gesso rebaixado, quantas firulas. gosto de bordas recheadas e firulas. na falta de deus, meu teto é tão alto, tão firme, tão protetor, tão concreto. tão digressivo - pudera, estou morta de sono. não durmo, não desgrudo os olhos do teto. não quero que todas as respostas do mundo escorram do oitavo andar, me enxarquem e - antes que eu as sinta e acorde e as decore - sequem. e aí eu fito o teto. gosto de bordas recheadas, firulas e do teto. gosto de olhar pra longe de mim. mas eu me acompanho de perto. eu não me largo. madrugada, fito o teto, como a pizza pelas beirdas, faço finta, firulas em volta do meu próprio umbigo. pergunto em primeira pessoa. não respondo. não durmo, estou morta de sono. são 03:16 a.m. e eu vou fitar a mim num sonho.

~

terça-feira, 31 de maio de 2011

basicamente,

prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora, que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora. que entende o triunfo da poesia sobre o futebol, mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol. prefere, ao invés de ouvir Slayer, ouvir Caetano e ouvir Manu Chao - não que Slayer não seja legal e visceral. a expressão do desespero do macho americano é normal, esse medo da face dita por Cristo é natural. é preciso mais que um soco pra se fazer um som, um homem, um filme. é preciso seu amor, seu feminino, sem suingue. pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande: é preciso ser macho, ser fêma, ser elegante.


Cinema Americano, Rodrigo Bittencourt
pra se ouvir com Thaís Gulin

~

domingo, 8 de maio de 2011

história pelo avesso

e então acaba uma outra história, outra história que sai de mim, perpassa nós dois e que se aquieta em um canto, em um conto, numa conta qualquer, e fica sem final e existiu sem começo, termina e eu sinto, sabe deus que eu sinto, que nós mal começamos, nós não começamos bem - fomos, assim, aos tropeços, aos beijos, aos 'não, pera lá, não era pra ser assim', às portas abertas fomos uma coisa qualquer estúpida, outra coisa qualquer límpida, fomos lindos e eu não sei se fomos dois, de certo fomos uma história mal contada, refluxo de uma outra que nos engoliu há anos e eu não digeri nós dois, e esse amor assim mal passado, mal mastigado, mal comido, é hoje o filme mais mal dirigido que eu me obrigo a assistir, e você cospe em mim de volta o amor que diz que sente, e eu acredito, e eu engulo, e eu tolero, e eu conjugo verbo e escrevo textos e eu sou só o que sobra porque ontem você cuspiu o meu amor e foi embora, foi dizendo 'não, pera lá, não era pra ser assim, me deixa ser teu amigo, mas casa comigo se eu pedir' e, bom, então acaba uma outra história e eu sinto, você sabe que eu sinto, que nós não terminamos, meu bem

~

segunda-feira, 14 de março de 2011



gravei tua voz no meu tímpano
vez em quando labirinto
faço que sinto, vez em quando minto
vinho tinto, amor rosé
você
vez em quando instinto




/Martha Medeiros

~

sexta-feira, 11 de março de 2011

in par

paro em pares de olhos que passam nos meus. colo em corpos celestes o brilho que colho dos pares de olhos que param os meus. param meus olhos e corpo os pares de pernas que ainda se movem enquanto eu me recolho. reuno em movimento e brilho as pernas que se fazem mãos, as mãos que se movem bocas e as bocas que se abrem peitos se meu próprio peito recolhe inteiros o que eu experimento partes. parte de mim meu par de olhos, orbita o movimento e brilho de outros corpos. não habitam a minha boca os meus olhos, não habita em minhas mãos o meu peito. espreito, espero, desligo desejos. deslizo desejos. desejo pares de olhos, passos de pernas, posse de corpos, passes de mágica. magia de peito é fazer de parte, um inteiro. amalgama de parte não é inteiro, é parte. mal de alma é ser tudo. sorte do meu peito é caber um mundo. sorte do mundo é que eu não caibo em mim.


cabe num ser imenso quase
tudo, exceto o vazio


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tu lipa, Eu calipto

- ou uma declarção às avessas


és colorida
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.


Luis Fernando Veríssimo

~

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Menina Bonita do Pé Amarelo

Menina bonita do pé amarelo
Te vejo daqui de longe dormindo
Tenho que ir e te deixar descansar
Que sono é esse que até te faz rir?

Seu sono é profundo
Menina bonita do pé amarelo
Que cara de anjo
Que vontade de te despertar!!

Vejo-te cada vez mais longe...
Menina bonita do pé amarelo
De longe seus pés ficam sem cor

De perto não sei mais se essa canção é pra esquecer uma dor
Então lá se vai a cor, a alma, a dor...
e a menina do pé amarelo vira deusa menina
e não liga pro que há de acontecer em papos de bar de esquina

(31/10/2010 JF)

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eu amo e amo quando escreve pra mim.
outra vez amor bem aqui: A Flor ~
'

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

baby,

você precisa saber de mim. baby, baby, eu sei que é assim. você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto. baby, há quanto tempo! você precisa aprender inglês, precisa aprender o que eu sei e o que eu não sei mais. não sei, comigo vai tudo azul, contigo vai tudo em paz, vivemos na melhor cidade da América do Sul. não sei, leia na minha camisa:

baby, I love you.

~

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.