sábado, 11 de setembro de 2010

ah, coração vagabundo...

meu coração é massinha de modelar bem vagabunda. não se aguenta na caixa, vive do calor das mãos pelas quais passa, das novas formas com que estas lhe moldam. ao fim do dia eu o recolho maior: traz consigo, à sua caixa, pedaços de outros corações em tons diversos já quase absortos em seu vermelho encarnado, vermelho urucum. e sinto daqui o cheiro do alvejantes nas roupas manchadas que fingem dar outras formas a outras massas. inútil: meu coração, massinha de modelar bem vagabunda, tinge a vida de quem o ousa tocar. meu coração é brinquedo de criança. é ciranda, fantoche, ioiô, é tesoura sem ponta e muitos papéis por cortar. é gangorra em galho alto e os pés tão longe do chão - de um lado pro outro e do outro, outra vez, para cá. é queda, mertiolate e mais gangorra! porque, bem, meu coração é criança aprendendo a amar. meu coração é balão cheio de gás, menos denso que o ar. é surdo, trompete e cuíca. meu coração é todos os tambores do Pelourinho. é sinfonia de bloco-afro, não sabe ficar quieto, sambar só, não gosta de bossa. meu coração é Salvador em carnaval. é mergulho no mar do Porto em ressaca, é as ruas cheias do centro e seus bailes de máscara, meu corção é fantasia. finge que é meu, finge que é peito, mas no fundo meu coração é alma e quem tem alma não tem paz.

meu coração não se cansa
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer
{...}
meu coração vagabundo
quer guardar o mundo em mim


~



anunciação

sua imagem projetada na minha tela traz sua voz clara e nítida, como se você me falasse aqui ao lado. as tuas letras, formando na tela o que você quer me dizer, formam do lado de cá outra vez a tua voz. meus pés riscam no chão as tuas consoantes, me entrego às vogais e, enquanto reproduzo sons que ouvi tão pouco em verdade, o teu cheiro toma os espaços vazios e os instantes em suspensão. você, no seu canto, estanca o já e torna urgente o que ainda está por vir.



tu vens, tu vens
eu já escuto os teus sinais

na bruma leve das paixões que vêm de dentro, tu vens chegando pra brincar no meu quintal {...} a voz do anjo sussurrou no meu ouvido - e eu não duvido, já escuto os teus sinais - que tu virias numa manhã de domingo, e eu te anuncio nos sinos das catedrais.

~

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

o desejo é um tempo parado


é quando aumenta a rachadura da velha parede, se vira a folha, se pinta um fio branco na cabeleira preta, se endurece o rastro de sorriso no canto dos olhos. eu sei que a viagem é longa
- a voz vai e vem -você ta aí? você ta aí? ei, voce está aí?

VONTADE DE ABRAÇAR O INFINITO'
~

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.