quinta-feira, 26 de novembro de 2009

in-Sone.

A cabeça dói e a preguiça cola o corpo na cama. Me nego, adio, procrastino, reprogramo o despertador e então desperto. De perto, eu ainda sinto o cheiro dos meus lençóis e, mesmo ao longe, já despontam as olheiras, o tom pálido, um ar de quem cansou e ainda não sabe do quê. Esqueço a pia aberta, a água no fogo secou de tanto ferver e eu ainda encaro meu outro eu, ainda mais apático. O banho é longo, religioso e difícil – é talvez neste ponto, na lucidez que flui da água, que rompo a barreira entre o que sonho e o que tem fibra suficiente pra resistir à liberdade (Na frase anterior, eu quis ter dito ‘realidade’, palavra inconveniente... É que ainda agora eu sinto o sono de hoje cedo, e é ele quem confunde minhas idéias). Protegida em minhas toalhas brancas, todas brancas e manchadas de rímel ou pó, abro os armários, analiso peça à peça e faço as mesmas escolhas da semana passada – meu armário é maquete de todo o resto. Tropeço até a sala, erros as chaves todas tão iguais, tombo nos degraus, derrapo nos plurais e entro no primeiro ônibus que pára quando bato a mão – todos nós sabemos o que dizem sobre qualquer caminho servir aos que não sabem aonde vão. São, então, mais destinos, degraus e plurais. Tudo é tão plural agora, mas assume uma consciência ímpar, prima-irmã daquela outra da infância – incrível como são infantis esses ditos maduros! Incrível como eu amadureci anos esses meses. Teimo na repetição de clichês, roupas, palavras, atos e autos. Porque a cabeça dói e a preguiça cola meu corpo no passado.

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.