domingo, 6 de dezembro de 2009

200º

De algumas coisas a gente se liberta. De outras tantas, livra-se. Existem pesos e existe pesares. Para cada palavra – e todo sentimento – abre-se uma porta e, a partir dessa, milhares de possibilidades. Porque o vernáculo é amplo e restrito. Porque o saber é amplo. O sentir, irrestrito. E, se penso este texto com o peito, volto a ser vernáculo. Outra vez amplo, irrestrito, se estendendo pela superfície e mergulhando ao fundo de cada palavra – e todo o sentimento. São duzentas as viagens, inumeráveis os destinos e o sem-fim de caminhos que trilhei partindo desse ponto inerte e que abandonei quando um outro templo cintilou mais convidativo lá ao longe. Tudo é templo. Aquele corpo, uma pedra, aquele monte de areia branca onde eu deslizei como se à beira de um vulcão prestes a explodir. Explosões são templos e eu as venero. Fico de joelho diante o que é explosivo ou construtor. Só as palavras solidificadas não me arrancam adoração. Palavras que não edificam ou demolem são palavras que não abalam. Todas elas abalam se em teu tom. Certas palavras brincam d esconder seu poder, seus reais significados ou – como gêmeo em novelas – ora dizem algo pra outr’ora – transvestidos de si mesmos – contradizer-se. Eu tenho lá minhas cismas com o português, especialmente o bem falado. Gosto como em francês primeiro se diz que ama para depois esclarecer o não mais*, enquanto pras bandas de cá somos diretos e nada sutis ao dar os primeiros passos com uma negação: não te amo mais. Negações constroem o que o amor pôs no chão. Ou o oposto. Já não sei. Uma ducentésima vez, venho aqui pra explicar algo e saio assim, confusa e leve. Livre de tantos verbetes, acabo por me livrar de mim.


*
je t’aime – mon non pluis.

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.