segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Veraneio.

Todos os encontros como um roteiro a se repetir: a minha chegada percebia sem grandes embaraços e um jeito dele me olhar como quem ganha uma aposta, como quem avista um troféu, como se soubesse que chegaríamos eu e meu sorriso esfinge a dizer baixinho e bem devagar 'bom te ver'. Coreografadas, minhas pernas dentro do jeans desobedecendo a física, ora uma no lugar da outra, ora outra, ora uma, ora as duas nas pontas dos pés; as minhas mãos por entre o cabelo a deslizar, libertando, prendendo, pulsando no compasso que ditava a voz dele, os seus dedos tensionando as cordas. Cinema mudo, era entendimento mútuo. Eu rodopiando o salão em acenos, abraços e cortesias - a mulher ideal, como ele diria, 'bonita e bacana de cerveja na mão' - e ele lá do seu canto, observando meus passos, era estátua pro sopro de vida de qualquer mulher real. Lia-se em mim contentamento escrito em tinta fresca, que ainda borra se você tocar, enquanto ele dizia em alto e bons olhos que era eu. Ouvia-se das minhas palmas um orgulho frenético como se eu também dissesse ser ele ali, ser dele ali. E era então minha cabeça afoita visitando desculpas velhas... minha mãe, minhas chaves, o horário, meu compromisso... e eu escapolia dos seus braços como se de molho em sabão. Ele insistia. Língua treinada, rebatia meus argumentos como um convite à vida. Eu negava. E era a minha partida pecebida com leve pesar e um jeito dele de olhar pra longe como quem chega em segundo, como quem perde por décimos, como se soubesse que iríamos eu e meu sorriso esfinge a dizer alto e mui clarito
'nao se atreva a me olhar, rapaz'.

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.