segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Veraneio II

Todo espetáculo permite improvisos, todo som é no íntimo um pouco jazz, toda roda abre espaço pr'um samba que reinvente os acordes. Por mais que se pense, ensaie, repita, não entra em nós (hipodermicamente) o conceito do pronto, do único, do impassível a transformações. Volto ao salão dessa vez de pernas nuas, desritmadas, livres ao sabor do som que se forma em vários pulsos, dedos, cordas e cordões. Cai sobre em mim, outra vez, aquele olhar de quem já esperava a vitória na aposta, a minha chegada, o meu pedido a ser decifrado e um não quanto ao 'devorar'. Ele volta ao seu canto e eu às minhas pessoas, minha graça, meus rodeios, meu prender e soltar de cabelos, mas cerveja não há mais. Como também já não há compromisso, nem vontade de mentir sobre horários, mãe ou chaves perdidas. Engulo meus receios enquanto ele se aproxima numa ânsia tranquila, como se me percebesse em mim qualquer distração ou a falta dos aneis, dos riscos na testa, do nome estampado na alma. Não corro dos seus braços, não fujo da sua boca e sua língua, treinada, me convida à vida. Impossível recusar.

Um comentário:

Camilla Mendes disse...

Impossível recusar a vida quando tudo o que se quer é viver. A noite tem a cor dos sabores e estes tomam a forma das vontades. Bom mesmo é deixar-se embalar, nos ritmos das almas e dos corpos.

Adorei. Linda sua forma de falar das noites que todo mundo já teve.

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.