Eu desaprendi a escrever, só sei sonhar. Fecho os olhos, pouso levemente os dedos sobre as teclas e o que surgir estará à léguas do materia e tangível, sendo tão somente digressão lírica. E é bonito isso. Porém já sinto em meus ombros a pressão da minha bolsa de aspirações; lotou, pesou, cansei. Nos últimos quilomentros, revisito doidamente o que em mim diz ser melhor arrastar meus sonhos mundo afora. Hesito porque temo que se parta uma correia, que se rompa o tecido e que meus desenhos astrais , uma vez soltos, aprisionem seres por aí. São tolos, bobos, irresponsáveis e se a mim endoidecem, o que fariam com as paredes lá fora? Torcem o ar, fazem ventar as grades e derretem o fogo. O que me assuta é a mania besta que eles têm de me fitar com dentes risonhos estampados na face, como se dissesem: vem, Raisa, vem conosco ser gauche na vida. Ai de mim nessa rendição eterna. Hoje, porém, finco corpo e alma nos lençois ... abro mão dos meus sonhos em troca de escrever em paz.
E esse negócio de alma na lama é profundo
... é o 'tete-no-tete' ...
Debaixo da Lua, da noite, do Sol, da manhã, da bomba atômica:
eu só quero um amor e um lençol
E O MUNDO PODE ACABAR.
2 comentários:
Q COMPLEXO! RS
Bonito mesmo. É dessas libertações mentais - fluxos de pássaros, bandos de águas, dúzias de terra e metros de plantas - que surge a poesia. Tal como surgiu a de Drummond, que também foi chamado para ser gauche na vida...
E eu, talvez infelizmente, não fui chamado.
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