quarta-feira, 21 de julho de 2010

um relicário imenso

que eu cumprisse o que propõe o título sem verbetes, seria o ideal. que meus olhos entregassem a decupagem deste roteiro e que, para tanto, fosse prescindível o abrir e fechar da minha boca - que você me entendesse muda: é pedir demais? é drama, você diz. eu então fecho as cortinas e sorrio meu sorriso bobo de quem foi pega tirando meleca do nariz. tenho cinco anos três vezes ao dia e é bom. só assim dispo esse casaco-escudo, esse vestido-longo-comportado-preconceito, essa calcinha-pudor e todo um guarda-roupa-asneiras que angariei buscando maturidade. que você me entendesse nua: eu quero, demais. mas você é do tipo que faz amor de calça jeans, e eu li antes de assinar o contrato.

meus olhos me entregariam sem chance de mal entender, labirinto sem esquinas. você vai se perder, não vai me entender, vai ler queixa e me ver cuspi no prato que comi - e comeria, eu queria {...} até o mundo acabar, até morrer -, você vai vestir meu casaco, meu vestido, vai queimar minha calcinha. e eu não queria. você vai dizer que é fácil, era só não publicar o tal relicário. mas eu ainda espero as letras miúdas do teu contrato - ou as grandes letras em teu outdoor - que vão prometer entendimento mútuo. não me queixo, só peço que me encare a mim sendo só você. sem calcinha, sem ressalvas. sem verbetes.


{...}
milhões de frases sem nenhuma cor'
~

Um comentário:

Raisa Bastos y Rodrigues disse...

isto é um conto. não é meu ou pra você, mas não conheço escritor que sai do corpo e não se inspire no seu mundo. então não me leve ao pé da letra, apreenda o sentido e me entenda nua. todos vocês.

Relicário; Nando Reis
Céu Negro; Chico César
Bandolins; Oswaldo Motenegro *

* sem citações. mas é a minha canção preferida no mundo, eu pensei nela enquanto escrevia e tocou na TV na hora em que eu publiquei.

Lilith

Minha foto
25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.