Enquanto escrevo, o vento vem lá de fora aplacando esse calor, tornando minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. O que eu penso hoje é da cor da paisagem do outro lado do vidro – do céu de uma tarde que finda, os pássaros no fio de alta-tensão, da casa do outro lado da rua, da árvore que eu plantei e do pisca-pisca de natal em seus galhos. Eu espero que a noite caia e então terei pensamentos lua, pensamentos estrela. Pensamentos sonhos que fujam de mim, das minhas redomas, e alcancem em cheio aquela madrugada. Quero pensamentos do tamanho dos nossos beijos. Porque há muito nada é tão imenso ou confortável. Eu quero pensamentos que me enlacem, me tomem, me provem e me digam, ao cabo de um toque, o que eu já não quero ouvir. Eu quero sentir. Sem flores, sem dores, sem amar coisissíma alguma. Eu quero, embaixo da minha janela, um sentimento nosso que aplaque esse calor (ou não) e que torne minhas palavras menos abafadas, mais coloridas. Quero sentir algo assim da sua cor: vermelho.
(beijos que apagaram os desejos que eu tinha)