meu coração é massinha de modelar bem vagabunda. não se aguenta na caixa, vive do calor das mãos pelas quais passa, das novas formas com que estas lhe moldam. ao fim do dia eu o recolho maior: traz consigo, à sua caixa, pedaços de outros corações em tons diversos já quase absortos em seu vermelho encarnado, vermelho urucum. e sinto daqui o cheiro do alvejantes nas roupas manchadas que fingem dar outras formas a outras massas. inútil: meu coração, massinha de modelar bem vagabunda, tinge a vida de quem o ousa tocar. meu coração é brinquedo de criança. é ciranda, fantoche, ioiô, é tesoura sem ponta e muitos papéis por cortar. é gangorra em galho alto e os pés tão longe do chão - de um lado pro outro e do outro, outra vez, para cá. é queda, mertiolate e mais gangorra! porque, bem, meu coração é criança aprendendo a amar. meu coração é balão cheio de gás, menos denso que o ar. é surdo, trompete e cuíca. meu coração é todos os tambores do Pelourinho. é sinfonia de bloco-afro, não sabe ficar quieto, sambar só, não gosta de bossa. meu coração é Salvador em carnaval. é mergulho no mar do Porto em ressaca, é as ruas cheias do centro e seus bailes de máscara, meu corção é fantasia. finge que é meu, finge que é peito, mas no fundo meu coração é alma e quem tem alma não tem paz.
meu coração não se cansa
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer
{...}
meu coração vagabundo
quer guardar o mundo em mim
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer
{...}
meu coração vagabundo
quer guardar o mundo em mim
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