terça-feira, 11 de janeiro de 2011

encantada

Do galho mais alto daquela árvore seca, minha melodia encerrada em gaiolas testemunhava a entrada daquele homem em minha vida. Abriu meus portões em sobressalto, atravessou a varanda do meu corpo e entrou pela porta da frente com as botas imundas. Deixou pegadas cheirando a leite até o sofá, onde sentou sem cerimônia. Servindo-se de chá e biscoitos, olhou para mim como a uma torta de limão que devoraria num só pedaço. Mas, ao invés disso, deu-se por satisfeito em levar à boca um dedo melado de chantilly. Só então disse-me um 'bom dia' cordial e sem paixão, desses que se dá a quem não se conhece e despejou sob a mesinha de centro trocentas palavras entrada, saladinhas de grão-de-bico, diversos pedidos sobremesa que jamais vão saciar a fome que eu sinto das suas palavras, mas que me fariam ouví-lo falar e falar do vazio enquanto investigo seus olhos deitada no carpete aos seus pés. Mas, se ainda te posso pedir algo, saia pela porta do fundo e só volte quando a tua dor se manter estanque o suficiente para que eu te toque, porque eu tenho sede e todo o meu chão é árido onde tuas mãos tateavam.


quando você me ouvir chorar
tente, não cante, não conte comigo
falo, não calo, não falo
deixo sangrar
- algumas lágrimas bastam pra consolar -
tudo vai mal, tudo.
tudo mudou, não me iludo
e, contudo, é a mesma porta sem trinco,
o mesmo teto e a mesma lua furar nosso zinco
meu amor, tudo em volta está deserto,
tudo certo.

~

2 comentários:

Amanda Silveira disse...

certo, como dois e dois são cinco.

p.s.: que homem é esse?!

Raisa Bastos y Rodrigues disse...

uhum, sempre Caetano.

p.s.: é O homem. pelo menos por enquanto...

Lilith

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25 anos de sol em leão. queria voltar ao tempo em que era cool escrever letra de música no perfil / cozinha, escreve, pratica boxe e é jornalista nas horas vagas / acha que "transtornada" é um nome muito bacana para quem tem TDAH, eu tenho.