eu escreveria um livro, se já não houvesse tantos, e o ponta-pé inicial seria a frase com que dou nome a este texto, se já não a tivessem usado. agora é manhã - ou quase - e eu ainda não dormi, eu tenho caçado a tranquilidade e a maciez de uma noite serena desde que você se foi e deixou como herança a cama vazia e uma insônia inquisidora. tá, você nem sequer foi, covarde e indecente. a mim faltaram a coragem de te pedir que fique, mas que fique mesmo, ou a decência de te mandar à merda! agora, enfim, é manhã e eu dormi a tarde inteira. acordei porque sonhei contigo, porque o sol se punha em minha janela e brincava de fornalha em minha cama ou porque já passava da hora de me entregar a única coisa que permanece à disposição de minhas vontades: os três livros de política sobre a mesa. tateei as folhas velhas, espirrei feito louca e, enquanto consultava o Aurélio, qualquer coisa na novela que minha vó assistia fez com que eu me perdesse em questões. quando eu sonho contigo, você sente? quando você atravessa a porta e divide comigo o meu travesseiro, é encontro astral ou só o meu inconsciente te querendo aqui? quando eu toco sua pele suave e explicitamente, é você quem se arrepia ou é a projeção que ficou do que já não há? houve?
de noite na cama, eu fico pensando
se você me ama e quanto.
se você me ama, eu fico pensando
de noite na cama e quando?
de dia eu faço graça pra não dar bandeira'
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